Quatro horas ou hora e meia? A duração de um jogo de ténis é muito enganadora

Joel Carrett / EPA

Novak Djokovic durante jogo com Carlos Alcaraz

“Que grande jogo: quase 4h de alto nível de ténis!” – será? Ou, na verdade, o jogo durou menos de metade desse tempo oficial? Vamos fazer contas.

Era o jogo mais aguardado até agora no Open da Austrália e, provavelmente, do torneio todo: Novak Djokovic venceu Carlos Alcaraz.

O tenista sérvio, aos 37 anos, passa a ser primeiro tenista da Era Open a chegar a 50 semifinais do Grand Slam. Para chegar lá, derrotou Alcaraz nos quartos-de-final (ou final antecipada) em quatro parciais: 4-6, 6-4, 6-3 e 6-4, em 3h37m.

A duração oficial do jogo foi essa: 3h37m. Alegadamente os dois tenistas jogaram durante quase 4h. Mas será mesmo assim? Não. Nunca é.

Diz-se quase sempre que “o jogador A derrotou o jogador B após mais de 3h de jogo”… Não é verdade.

No duelo grande desta terça-feira, por exemplo: Djokovic recebeu assistência médica ainda durante o primeiro set. Uma pausa que durou alguns minutos – mas o tempo continuou a contar no relógio oficial.

E depois há muitas variantes: o tempo que demora cada serviço, o tempo de paragem entre cada set, até entre cada jogo…

O portal Tennis Leo tem diversos números interessantes. Em média, passam 25 ou mesmo 30 segundos entre cada ponto; um jogador demora 15 segundos a servir – se fossem todos como Rafael Nadal, seria mais do dobro.

Entre cada jogo a pausa é maior, estando numa média de 90 segundos, ou seja, um minuto e meio entre cada jogo.

Então, vamos a contas.

Imaginemos um duelo entre Djokovic e Alcaraz que teve quatro parciais, que oficialmente durou 4h. Em média teve 10 jogos por cada set e cada jogo teve em média 6 pontos. É um cenário perfeitamente realista.

São 240 pontos disputados, mas para as pausas só contam 200 por causa das paragens entre jogos. Com uma pausa de 25 segundos entre cada ponto, são 5 000 segundos parados; traduzindo, 83 minutos; traduzindo, 1h23m parados entre pontos.

Agora, as pausas entre jogos. Como foram 40 (10 em cada parcial), e como em média se pára 90 segundos, são 3 600 segundos, ou então 60 minutos. 1h parados entre jogos.

Resumindo: 2h23m parados num total de 4h.

Ou seja, o jogo em si não durou 4h, mas sim 1h37m. É menos de metade do anunciado.

Mas, mesmo assim, esta duração real já é notável porque, reparemos, é a duração de um jogo de futebol mas só estão duas pessoas em campo, que correram e esforçaram-se muito mais; com paragens entre os pontos, claro.

A frase certa até seria: “Djokovic derrotou Alcaraz em quatro parciais, num jogo que acabou 4h depois de ter começado“.

E há torneios (como o Open da Austrália, precisamente) em que estes números até justificariam nova análise detalhada, por causa do público. Gritos, incentivos, apupos, àpartes. Interrupções constantes que prolongam as paragens.

Pormenores.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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