No Japão, há idosas a trocar lares por prisões: cometem crimes para não estarem sós

Pobreza, isolamento e depressão. Ora porque “está frio”, ora porque “têm fome”, estas mulheres preferem espreitar por trás das grades a ter uma vida no exterior.

“Algumas pessoas fazem coisas más de propósito e são apanhadas para poderem voltar para a prisão, se ficarem sem dinheiro”, conta uma reclusa de Tochigi, a maior prisão feminina do Japão, em Tóquio, à CNN.

Yoko, nome fictício, tem 51 anos, e foi presa 5 vezes nos últimos 25 anos por tráfico de drogas. Cada vez que regressa, diz que vê dentro das grades pessoas mais velhas.  O problema é tão grande a prisão começou a “pedir às reclusas com qualificações de enfermagem (como Yoko) que prestem cuidados” aos mais velhos.

“Akiyo”, uma reclusa de 81 anos, diz que “há pessoas muito boas nesta prisão”, e chega mesmo a refletir: “Talvez esta vida seja a mais estável para mim“.

O Japão enfrenta um problema de grande aumento da população idosa: há uma crise na natalidade no país com a maior esperança média de vida.

A solidão dos mais velhos no país é de tal forma alarmante que um guarda prisional chega a contar à CNN que “há mesmo pessoas que dizem que pagariam 20.000 ou 30.000 ienes (124-186 euros) por mês se pudessem viver aqui para sempre“.

“Há pessoas que vêm para aqui porque está frio ou porque têm fome“, acrescenta o guarda. “Nesta altura, parece mais um lar de idosos do que uma prisão cheia de criminosos condenados.”

As reclusas têm cuidados de saúde gratuitos, refeições e ajuda de funcionários para tomar banho, tomar a medicação e realizar as atividades quotidianas. Têm, também, acesso à companhia das outras reclusas, que não existira no mundo exterior.

Escolhem, portanto, cometer delitos para ficar atrás das grades.

20% das pessoas com mais de 65 anos no Japão vivem na pobreza, de acordo com a OCDE. Decidem, portanto, apostar no crime. O delito mais comum é o roubo: segundo o governo japonês, 80% das reclusas idosas em 2022 estavam presas por essa razão.

“Akiyo”, antes de ser presa pela segunda vez (tinha já estado em Tochigi uma vez), recebia uma pensão “muito pequena” que só era paga de dois em dois meses. “Tomei uma má decisão e roubei uma loja, pensando que seria um problema menor”, confessa.

Mas, na verdade, o crime foi motivado por um desespero psicológico: “Pensava: ‘Não vale a pena viver, só quero morrer’“, conta a idosa.

Estar sozinha é uma coisa muito difícil, e sinto-me envergonhada por ter acabado nesta situação”, acrescentou. “Sinto mesmo que, se tivesse uma vontade mais forte, poderia ter tido uma vida diferente, mas estou demasiado velha para fazer alguma coisa agora.”

Como ela, são muitas outras na mesma situação. O guarda prisional explica que “mesmo depois de serem libertadas e de regressarem à vida normal, não têm ninguém que cuide delas“, disse. “Há também pessoas que foram abandonadas pelas suas famílias depois de terem cometido crimes repetidamente, não têm um lugar a que pertencer”.

ZAP //

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