Hamas já terá aceitado projeto. Três motivos do lado de Israel: “Quase ninguém fala, mas o Irão é um grande fator”.
O Hamas aceitou um projeto de acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a libertação de dezenas de reféns, disseram fontes ligadas às negociações, citadas pela agência de notícias Associated Press (AP).
Uma autoridade israelita disse que houve progressos, mas que os detalhes estão a ser ultimados.
A AP obteve uma cópia do acordo proposto e uma autoridade egípcia e uma autoridade do Hamas confirmaram a sua autenticidade. O plano teria de ser submetido ao Gabinete israelita para a sua aprovação final. Todos os três responsáveis falaram sob condição de anonimato.
O último projeto estipula, numa primeira fase, a retirada total das tropas israelitas do Corredor de Filadélfia – a fronteira entre a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, no Egito – bem como a retirada “parcial” de diferentes pontos do enclave palestiniano.
Durante este período, as forças israelitas serão autorizadas a manter “postos de controlo” em Gaza, enquanto no último dia da terceira fase, as forças de ocupação deverão efetuar “uma retirada total” do enclave.
Os Estados Unidos, o Egito e o Qatar passaram o último ano a tentar mediar o fim da guerra de 15 meses e a garantir a libertação de dezenas de reféns capturados no ataque do Hamas, que aconteceu em 7 de outubro de 2023. Cerca de 100 israelitas ainda estão presos em Gaza e os militares acreditam que pelo menos um terço destes estão mortos.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, apresentou esta terça-feira um plano para a reconstrução e a governação de Gaza no pós-guerra.
Blinken elogiou a proposta e sublinhou a importância de garantir a sua aplicação depois de o Governo do atual Presidente, o democrata Joe Biden, cessar funções, num discurso proferido no Atlantic Council, um grupo de reflexão com sede em Washington.
“Temos a responsabilidade de garantir que os ganhos estratégicos dos últimos 15 meses perdurem e sirvam de base a um futuro melhor”, declarou Blinken.
Segundo o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, o plano, de que já diversas vezes falou em traços largos, prevê que a Autoridade Palestiniana convide “parceiros internacionais” para criar uma autoridade governamental interina destinada a gerir serviços essenciais e supervisionar o território, ao mesmo tempo que outros parceiros, nomeadamente os Estados árabes, forneceriam forças para uma missão de segurança provisória.
Mas…
… cessar-fogo em Gaza não é obrigatoriamente sinónimo de paz na região. Pelo menos, não de paz imediata.
António José Telo que o acordo de cessar-fogo está realmente cada vez mais perto. Mas paz em Gaza? “Não é bem assim. A implementação do acordo será longa, terá várias fases e, em qualquer das fases, pode ser interrompida se acontecer algo inesperado. E já vimos isso acontecer várias vezes no Médio Oriente“.
O professor na Academia Militar aponta para três fatores essenciais – do lado de Israel – para o cessar-fogo ser acordado agora, caso se confirme.
O primeiro, “e o mais importante de que quase ninguém fala”, é o Irão: está quase a ter um arsenal nuclear, “aliás, possivelmente já tem armas nucleares e já as testou”. Por isso, “este é o grande fator: este é o último momento em que se pode fazer algo para impedir que o Irão tenha um arsenal nuclear na zona. Tudo que acontece em Gaza, no Líbano, ou na Síria, de uma maneira ou de outra gira à volta do Irão e tem o Irão por trás”.
O segundo fator é a mudança de presidente nos EUA. Donald Trump vai tomar posse “e qualquer coisa que se faça em relação ao arsenal nuclear do Irão, terá de ser feita em conjunto com os EUA”, explicou o especialista, na RTP. Aliás, as autoridades manifestaram um crescente otimismo de que podem concluir um acordo antes da tomada de posse de Trump.
O terceiro motivo é a situação interna em Israel: conseguir a libertação de reféns israelitas pode “facilitar” o cenário – tremido – para o primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu. Mas também pode originar a saída de dois ministros do seu Governo, que estão contra um acordo.
ZAP // Lusa
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