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Uma bizarra trovoada aparece todos os dias às 3 da tarde. Eis porquê

Djambalawa / Wikipedia

Hector a formar-se sobre as ilhas Tiwi — visto de Gunn Point, Território do Norte, Austrália

Chama-se Heitor. É uma tempestade muito peculiar, com a sua pontualidade única — e uma das mais estranhas ocorrências da vida.

Normalmente, os meteorologistas só dão nomes a sistemas meteorológicos que ameaçam ter impactos significativos numa grande área — como os furacões de que temos ouvido falar (e sentido os efeitos) nos últimos anos.

Mas “Hector the Convector“, ou Heitor, como decidimos chamar-lhe no ZAP, é uma exceção: é uma simples trovoada, que ganhou direito a nome próprio não pelo seu poder destrutivo, mas pela sua fiabilidade e consistência.

Este fenómeno meteorológico forma-se sobre as ilhas Tiwi, ao largo da costa de Darwin, no norte da Austrália, de forma tão fiável que se pode acertar o relógio por ele.

Quase todas as tardes, precisamente às 15 horas, durante as estações de chuva — de setembro a março — Heitor aparece e dá um ar da sua graça, conta-nos a climatologista Ceri Perkins num artigo na BBC Science Focus.

A sua consistência de relógio é o resultado de um microclima local, criado pelas brisas marítimas e pela topografia em forma de pirâmide das ilhas Tiwi.

Estas ilhas estão rodeadas de ar tropical marinho. Ao sol da manhã, o ar seco sobre a terra aquece mais rapidamente do que o ar húmido sobre o mar. À medida que o ar seco aquece, expande-se, criando uma bolsa de baixa pressão sobre as ilhas que suga o ar marinho para terra sob a forma de brisas marítimas da tarde.

NASA

Fotografia das ilhas Tiwi, ao largo da costa de Darwin, na Austrália, captada por um astronauta da Expedição 52 da Estação Espacial Internacional

Estas brisas marítimas chegam de todos os lados. Quando convergem para os picos, não têm para onde ir senão para cima, transportando consigo a humidade dos mares.

À medida que a coluna de ar sobe, arrefece e condensa, forma gotículas de água e nuvens, e injeta instabilidade na atmosfera, que rapidamente se transforma numa tempestade convectiva profunda. Daí o seu nome nativo: Hector, the Convetor.

Este nome foi-lhe dado pelos pilotos da Segunda Guerra Mundial, que usavam a sua enorme nuvem cumulonimbus como um farol de navegação quando voavam entre Darwin e Papua Nova Guiné.

De acordo com o Australian Bureau of Meteorology, Heitor é uma das tempestades mais consistentemente grandes do planeta, atingindo regularmente uma altura de mais de 19 mil metros — e ocasionalmente atingindo a estratosfera.

É também uma das mais bem estudadas. As trovoadas tendem normalmente a ser animais imprevisíveis e de curta duração, é difícil saber exatamente onde vão aparecer.

Mas desde os anos 1980 que os cientistas exploram a extraordinária fiabilidade de Heitor para sondar os mecanismos de formação de tempestades e investigar fenómenos como relâmpagos e correntes de ar ascendentes.

E também para acertar os seus relógios.

ZAP //

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