Lendário programa infantil enfrenta um futuro repleto de incertezas. Se uns acham que o fim já vem tarde, há quem veja Poupas e companhia como “mais essenciais do que nunca” e apele com todas as forças a uma salvação.
A Rua Sésamo, onde milhões de pessoas “brincaram” na sua infância durante mais de meio século, está a “enfrentar obstáculos a nível comercial e criativo” e prestes a perder a sua casa de transmissão.
Já na sua 55.ª temporada, o famoso programa, que conta com Poupas, Egas, Becas e centenas de outras personagens, tem vindo a ser cada vez menos visto devido ao aumento da concorrência — apesar de ainda se encontrar no 14.º lugar entre os programas infantis mais transmitidos em 2023, de acordo com as classificações da Nielsen citadas por um responsável da produtora da Rua Sésamo que falou com o The Washington Post.
Desde 2016 que novos episódios têm estreado num formato de 30 minutos na HBO e na sua plataforma de streaming, Max, mas a parceria está agora a terminar e não será renovada. O fim da Rua Sésamo é parte de uma mudança corporativa mais ampla da Max, que se afasta da programação infantil, disse um porta-voz da Max ao The New York Times.
“Com base na utilização e no feedback dos consumidores, tivemos de dar prioridade às histórias para adultos e famílias”, explicou: “os novos episódios da Rua Sésamo, nesta altura, não são tão importantes para a nossa estratégia”.
Novo formato com “o que as crianças procuram”
Apesar das dificuldades, a Sesame Workshop, por detrás da série, está a planear uma reinvenção para manter o programa relevante. Os produtores confessaram que estão a considerar um novo formato para a potencial 56.ª temporada.
Se vier a acontecer, a nova temporada vai ser “reimaginada”, passando da atual estrutura de segmentos curtos para episódios mais longos e narrativos em dois segmentos, acompanhados pela série de animação, ‘Tales From 123’, disse em outubro do ano passado o CEO da produtora ao The Hollywood Reporter.
Faz tudo parte da “experiência”: as crianças mudaram, por isso a Rua Sésamo também tem de mudar.
“As crianças adoram um pouco de perigo, adoram ter interesses emocionais e, em nove minutos, é difícil mergulhar nessas áreas de forma realmente eficaz. Ao abrirmos estes segmentos e ao torná-los mais longos, vamos ter a oportunidade de apresentar o que sabemos através da investigação, o que sabemos através da indústria, o que sabemos através dos nossos especialistas em currículo e educação, o que sabemos que as crianças procuram”, disse Kay Wilson Stallings, vice-presidente executiva e diretora de desenvolvimento criativo e produção da Sesame Workshop.
“Atrasada” ou “mais essencial do que nunca”?
A conversa sobre o fim da “Rua Sésamo” chega “15 ou 20 anos atrasada”, diz Candice Frederick no Huffington Post, que acredita que programa pode ter perdido muito do seu charme há anos, ao concentrar-se demasiado em marionetas e desenhos animados em detrimento da sua missão educativa original.
Hoje, são apenas “fantoches, fantoches, fantoches, desenhos animados, desenhos animados, desenhos animados”, reforça a professora de Estudos da Infância Marilisa Jiménez García, que nota que o programa se foi afastando da abordagem da literacia crítica e das questões sociais.
Para outros, a Rua Sésamo, onde pessoas tão diferentes “podem ser melhores amigos apesar de discordarem em quase tudo”, é, hoje, “mais essencial do que nunca”, numa altura em que “nos tornámos cada vez mais tribais e isolados uns dos outros”, escreveu Alan Sepinwall a 30 de dezembro na Rolling Stone.
Será que irão aparecer os “they”? \o/ “They Sesame Street” \o/