Análises de dados do robô Curiosity, da NASA, reforçam a hipótese de que a água líquida poderá existir em Marte, revela hoje um estudo, alertando, porém, para a improbabilidade de ser encontrada vida no planeta.
“Descobrimos perclorato de cálcio no solo, que, sob certas condições, absorve o vapor de água presente na atmosfera”, explicou um dos coautores da investigação, Morten Bo Madsen, do Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca.
O perclorato, um tipo de sal, baixa o ponto de congelação da água, ao ponto de a tornar líquida.
“Mesmo que a água, sob a forma líquida, exista em Marte, é improvável que se encontre vida”, refere, no seu portal, o instituto de Morten Bo Madsen, assinalando que o ambiente do “planeta vermelho” é “demasiado seco, frio e sujeito a radiações cósmicas tão potentes que penetram na superfície, matando todo o tipo de vida”, pelo menos a que é comparável com a da Terra.
De acordo com o estudo, publicado na revista Nature, quando a noite cai, uma parte do vapor de água na atmosfera condensa-se à superfície de Marte como gelo.
Contudo, o perclorato de cálcio é muito absorvente e forma com a água uma salmoura, o que diminui o ponto de congelação e permite ao gelo transformar-se em água líquida, explicou Morten Bo Madsen.
Sendo o solo poroso, a água infiltra-se.
As observações do robô Curiosity, a subir o Monte Sharp, no meio da cratera Gale, testemunham igualmente a presença de depósitos sedimentares deixados num passado distante por água.
“Estes tipos de depósitos formaram-se quando grandes quantidades de água fluíam ao longo da cratera e alcançaram águas estagnadas, na forma de um lago”, adiantou o investigador.
Segundo outro coautor da investigação, Alfred McEwen, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, se existe uma salmoura na cratera de Gale, zona mais quente e seca de Marte, e, portanto, menos propícia para ter esta água salgadíssima, é possível que ela também surja “em muitos outros lugares do planeta”.
O robô Curiosity, da agência espacial norte-americana NASA, fixou-se em solo marciano em agosto de 2012, para estudar melhor o planeta.
Há um mês, uma investigação conjunta da NASA e do Observatório Europeu do Sul, organização da qual Portugal faz parte, revelou que um oceano primitivo em Marte continha mais água do que o Oceano Ártico na Terra e cobria uma maior superfície do “planeta vermelho” do que a que é coberta pelo Oceano Atlântico no “planeta azul”.
Uma equipa internacional de astrofísicos conseguiu distinguir as assinaturas químicas de dois tipos de água atmosférica de Marte e mapeou “as propriedades da água em diversas regiões da atmosfera” do planeta durante cerca de seis anos.
/Lusa