Bashar Al-Assad fugiu para a Rússia. “Já se pode respirar” na Síria

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HASAN BELAL/EPA

Pessoas festejam na rua depois de os rebeldes sírios terem capturado a cidade de Damasco.

Putin dá asilo ao presidente sírio e Conselho de Segurança da ONU reúne esta segunda-feira. Bandeira da oposição içada na embaixada síria de Moscovo.

Alguns acreditaram na sua morte, mas o Presidente deposto sírio Bashar al-Assad e a sua família estão na verdade em Moscovo, segundo agências de notícias russas citadas pela AFP.

Depois da tomada de Damasco pelas forças da oposição, fonte do Kremlin confirmou a presença na capital do ex-líder sírio, que esteve no poder durante 24 anos. Esta segunda-feira, entre flocos de neve, a bandeira da oposição síria foi hasteada na embaixada da Síria em Moscovo.

“Assad e os membros da sua família chegaram a Moscovo. A Rússia, por razões humanitárias decidiu conceder-lhes asilo”, referiu a mesma fonte, segundo a TASS e a Ria Novosti.

A presidência russa confirmou mais tarde que o Presidente Vladimir Putin concedeu asilo na Rússia ao ex-presidente sírio e à família.

“É claro que essas decisões não podem ser tomadas sem o chefe de Estado. A decisão é dele”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela agência oficial TASS.

Peskov escusou-se a especificar o paradeiro de Bashar al-Assad e disse que Putin não planeava encontrar-se para já com o líder deposto, segundo a agência norte-americana AP.  “Não há nenhum encontro [planeado entre Putin e Assad] na agenda oficial do Presidente russo”, afirmou, insistindo que a Rússia, tal como o resto do mundo, ficou surpreendida com os acontecimentos na Síria.

Depois de os rebeldes terem declarado este domingo Damasco ‘livre’ de al-Assad, após 12 dias de ofensiva, o presidente do mais alto órgão político da oposição síria no exílio, a Coligação Nacional Síria (SNCF), Hadi Al Bahra, garantiu à EFE que a capital síria “estará segura em dois ou três dias”, numa altura em que Israel deixa uma garantia: a Síria tornou-se a quarta frente em que mantém uma operação terrestre, juntando-se a Gaza, à Cisjordânia e ao Líbano.

O palácio de Bashar al-Assad foi incendiado e saqueado durante a ofensiva-relâmpago que pôs fim a cinco décadas de governo Baath.

Esta segunda-feira, tiram-se selfies à porta e nas salas de receção.

Já podemos finalmente respirar e andar por aí“, disse um cidadão sírio à BBC. “Podemos dar a nossa opinião. Podemos dizer o que nos incomoda sem ter medo. Por isso, sim, há uma mudança. Espero que seja uma boa mudança. Mas temos vivido sob uma falsa esperança durante 13 anos [de guerra civil].”

A pedido da Rússia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se de emergência na tarde desta segunda-feira, a partir das 15h00, para uma reunião à porta fechada sobre a Síria, segundo várias fontes diplomáticas citadas pela AFP.

Rebeldes defendem bases russas na Síria

Os rebeldes sírios que tomaram Damasco “garantiram a segurança” das bases russas no país, segundo as mesmas agências russas.

“Os responsáveis russos estão em contacto com os representantes da oposição armada síria e os seus dirigentes garantiram a segurança das bases militares e das instituições diplomáticas russas no território da Síria, afirmou fonte do Kremlin.

A Rússia de Vladimir Putin, juntamente com o Irão, era o principal aliado de Bashar al-Assad e envolveu-se militarmente no conflito sírio em 2015. O regime de Vladimir Putin tem duas grandes bases nas províncias costeiras do país, através das quais opera no Mediterrâneo e no Médio Oriente.

“Oportunidade histórica“, diz Guterres

Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, enquanto a maioria dos países ocidentais e árabes se mostrou satisfeita por Damasco deixar de estar nas mãos do clã Assad.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pede calma e que se evite violência na Síria, após a queda do regime que vê como uma “oportunidade histórica para construir um futuro estável e pacífico”, “após 14 anos de guerra brutal e a queda do regime ditatorial”.

“Há muito trabalho a fazer para assegurar uma transição política ordenada para instituições renovadas. Reitero o meu apelo para a calma e para que se evite a violência neste momento sensível, protegendo simultaneamente os direitos de todos os sírios, sem distinção”, referiu Guterres numa nota partilhada no portal das Nações Unidas.

Guterres defendeu que é preciso o apoio da comunidade internacional para uma garantir uma transição política inclusiva e abrangente e que responda às aspirações da população.

“A soberania, a unidade, a independência e a integridade territorial da Síria devem ser restauradas”, vincou o secretário-geral da ONU, que pediu que a inviolabilidade das instalações e do pessoal diplomático e consular “deve ser respeitada em todos os casos”.

Apontando que serão os sírios a determinar o futuro da Síria, Guterres disse que a ONU vai estar empenhada em apoiá-los a “construir um país onde a reconciliação, a justiça, a liberdade e a prosperidade sejam realidades partilhadas por todos”.

“Ato de justiça” — mas cuidado com os rebeldes

O Presidente dos EUA, Joe Biden, atribuiu a queda do regime à fragilidade dos países que o apoiavam, nomeadamente o Irão e a Rússia, incapazes de protegerem o seu aliado.

Classificando este colapso do regime na Síria como um “ato de justiça”, Biden admitiu, contudo, que este é também um “momento de risco e incerteza”, lembrando que alguns dos rebeldes têm um perigoso histórico de terrorismo. Numa comunicação a partir da Casa Branca, Biden disse que a queda do regime sírio é uma prova de que Moscovo está a perder influência no Médio Oriente.

“Isto porque a Ucrânia, apoiada pelos aliados, ergueu um muro contra as forças invasoras russas, infligindo danos às forças russas, que deixaram Moscovo incapaz de proteger o seu aliado no Médio Oriente”, explicou o líder norte-americano.

O Presidente norte-americano lembrou que, nos últimos quatro anos, o seu Governo adotou uma política clara em relação à Síria, mantendo sanções contra o regime de Bashar al-Assad e apoiando a liberdade de ação de Israel contra redes iranianas na região.

“Começou uma nova era”

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Hakan Fidan, disse que Ancara quer ver uma nova Síria que viva em harmonia com os seus vizinhos e está pronta a apoiar a reconstrução do país. A Turquia também irá trabalhar para ajudar a regressar em segurança os refugiados deslocados à Síria.

“Começou uma nova era na Síria, agora é altura de nos concentrarmos no caminho a seguir”, afirmou Fidan, citado pela Al Jazeera.

No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.

Em 2015, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 2254, com o objetivo de se definir uma solução política para a guerra civil na Síria, que eclodira em 2011, e de estabelecer um processo de transição política, sob a égide da ONU.

ZAP // Lusa

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3 Comments

  1. Ha dezenas de anos que tentam em vão emborcar a familia Al-Assad. Estranhamente conseguem-no agora em meia duzia de dias, práticamente sem resistência. Seria bom saber o que realmente está acontecendo, em vez de debitarem as baboseiras dos habituais comentadores de plantão.

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  2. Já se pode respirar na Síria !!!
    Será?
    Eu não teria tanta certeza.
    Quando derrubaram o famoso Xá da Pérsia também foi para respirarem…respiram agora?

    • É sempre a mesma história e não vai ser diferente desta vez. Os jornalistas (propagandistas) estão a usar exactamente os mesmos argumentos depois de “libertarem” o Iraque, Afeganistão e Líbia. Nenhum dos países ficou nem um pouquinho melhor.

      Venham daí mais uns milhões de refugiados Sírios para a Europa, que é a melhor chance que têm para sobreviver, e nós temos alojamento e subsídios para todos. Não vale a pena ficarem num país controlado pela Al-Qaeda, Estado Islâmico e Israel. Qual deles o pior. Imagine-se os 3 juntos.

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