Cientistas defendem a classificação de um novo grupo extinto que viveu no norte da China até há 120 mil anos como uma espécie separada. Tem grandes dentes, um enorme crânio — e levanta muitas questões sobre os Humanos.
“Esta é uma diferença muito substancial entre o Homo sapiens moderno, o Neandertal e esta nova espécie agora proposta”, explica Christopher Bae, professor de antropologia na Universidade do Havai em Manoa, e um dos cientistas que batizaram a nova espécie como Homo juluensis.
Ju lu, em chinês, significa cabeça enorme.
“Quando pensamos no Homo juluensis, estamos perante uma população de hominídeos bastante robusta”, acrescenta investigador, em comunicado da universidade havaiana. A espécie terá vivido entre 200 e 160 mil anos atrás.
Eram caçadores hábeis e organizados, tendo dominado ferramentas primitivas e armas semelhantes a lanças que utilizavam para matar cavalos selvagens.
Com os animais, faziam tudo: comiam a carne e até a medula óssea, e utilizavam as suas peles para fazer roupas para enfrentar os invernos rigorosos chineses. Tinham cabeças relativamente grandes com crânios baixos e largos que acomodavam dentes de tamanho considerável.
A capacidade craniana média do Homo sapiens adulto moderno é de cerca de 1.350 cm3, enquanto os Neandertais, que existiram até há cerca de 40.000 anos, tinham uma capacidade craniana de cerca de 1.450 centímetros cúbicos. O crânio do Homo juluensis media entre 1.700 e 1.800 cm3.
Em Xujiayao, na China, os investigadores não apenas desenterraram fragmentos de ossos de 16 indivíduos, como também descobriram milhares de artefactos: ferramentas de pedra e ossos de animais. E todos eles apontam para um local de matança de cavalos.
“Provavelmente caçavam em grupo — rodeavam um grupo de cavalos e atacavam-nos como um grupo. Em Xujiayao, provavelmente estavam a processar as peles com alguma dessas ferramentas“, explica Bae.
“Iniciativas recentes de investigação na China e na Ásia Oriental estão a mostrar claramente que várias linhagens de hominídeos estiveram presentes durante o Quaternário Tardio“, lê-se no estudo, recentemente publicado na Nature Communications.
Ainda que os primeiros Homo juluensis tenham sido já descritos na década de 1970, na altura não se falava de uma nova espécie. É só agora que, com a descoberta de mais fósseis deste tipo, se fala numa diferença significativa face aos Neandertais.
De acordo com os investigadores, os Denisovans, cujos fragmentos de ossos foram descobertos numa caverna com o mesmo nome do sul da Sibéria, e que foram identificados como primos dos Neandertais, devem ser incluídos no Homo juluensis devido aos traços dentários correspondentes.
Mas a descoberta tem gerado controvérsia. Bae afirma que a sua proposta seria provavelmente ser debatida pelos paleoantropólogos porque “muitos ocidentais disseram que os fósseis chineses deviam ser chamados Denisovan e não o contrário“. Mas os cientistas argumentam que Denisovan é o nome de uma população geral — e não de uma espécie.
“O registo do leste asiático está a levar-nos a reconhecer o quão complexa é a evolução humana em geral e a forçar-nos a rever e repensar as nossas interpretações de vários modelos evolutivos para melhor corresponder ao crescente registo fóssil”, conclui o investigador.
Bae insiste, e não vai dar parte fraca: “A partir da análise dos dentes e da datação, pensamos que os Denisovans pertencem muito provavelmente ao Homo juluensis, com base nas suas semelhanças”, disse. É importante “descolonizar o nosso campo para que a paleoantropologia asiática se mantenha por si própria” e “eventualmente para que o nome juluensis seja aceite”.