Um novo estudo sugere que a melanina – pigmento responsável pela cor da pele, cabelo e olhos – pode ter um efeito inesperado na absorção de medicamentos.
De acordo com um estudo publicado em outubro, na Human Genomics, a melanina pode absorver certos medicamentos (administrados tanto por via tópica como oral). Isto tem impacto na distribuição da dose necessária aos tecidos que necessitam de tratamento.
Como tal, esta fenómeno pode levar a variações nas respostas dos pacientes a doses padrão de medicação, dependendo do seu tom de pele.
Investigações anteriores, citadas neste estudo, já teorizavam esta hipótese.
Por exemplo, a nicotina liga-se à melanina, influenciando os hábitos tabágicos das pessoas de acordo com a sua pigmentação. Também há provas de que produtos químicos tóxicos, como os encontrados em fertilizantes e pesticidas, podem acumular-se em concentrações mais elevadas na pele mais escura.
Esta diferenciação sugere que os níveis de exposição seguros podem variar entre indivíduos de diferentes etnias – um aspeto até então ignorado na investigação pré-clínica e nos ensaios clínicos de novos medicamentos.
Para resolver estas discrepâncias, Sophie Zaaijer e Simon Groen, investigadores da Universidade da Califórnia, propõem agora a utilização de modelos celulares mais diversificados.
Os recentes avanços na biologia celular já permitem a criação de modelos celulares 3D que imitam com precisão os diferentes tons da pele humana. Estes modelos são essenciais para testar a interação dos medicamentos com a melanina nas fases pré-clínicas, aumentando assim a precisão dos estudos.
Como nota a Live Science, outra inovação mencionada no estudo são os modelos “órgão num chip”, que simulam várias células e órgãos humanos num dispositivo compacto.
Estes dispositivos podem ser particularmente úteis para estudar a forma como os fármacos interagem simultaneamente com a melanina na pele e com as enzimas no fígado, fornecendo informações valiosas para os ensaios clínicos.
A falta de diversidade nos ensaios clínicos é uma preocupação apontada pelos autores do estudo, com obstáculos geográficos e financeiros que impedem a participação de grupos minoritários.
Este debate realça a necessidade de uma maior representatividade nos estudos clínicos e pré-clínicos, especialmente em termos de pigmentação da pele, uma variável que pode influenciar significativamente a eficácia dos medicamentos.
A inclusão desta variável poderia levar a inovações mais precisas e seguras, beneficiando toda a sociedade.
“A representação nos ensaios clínicos é uma questão crítica para a comunidade dos ensaios clínicos”, comentou à Live Science, Jakub Hlávka,da Universidade do Sul da Califórnia, que não esteve envolvido no estudo.
“Felizmente, a representação e a diversidade na investigação clínica têm vindo a melhorar ao longo do tempo”, acrescentou.
Num estudo de 2022, Hlávka concluiu que a falta de representação nos ensaios clínicos compromete a generalização dos resultados dos ensaios a toda a população dos EUA.
“Uma análise mais aprofundada pode incluir o estudo da representação de populações com diferentes tons de pele em ensaios clínicos, particularmente em áreas onde pode haver implicações para a eficácia clínica de medicamentos em investigação”, concluiu o especialista.