Navio São Jorge afundou há exatamente 500 anos, na última viagem do navegador português. É o mesmo que está a 500 metros da costa de Melinde, acredita a Universidade de Coimbra. A confirmar-se, é um “tesouro único”.
Um navio naufragado, encontrado ao largo da costa do Quénia, pode ser o galeão São Jorge, que se afundou há exatamente 500 anos numa noite tormentosa, durante a última viagem no navegador português Vasco da Gama.
Os restos da embarcação foram descobertos a cerca de 500 metros da costa de Melinde, em 2013, e podem mesmo ser parte do mais antigo naufrágio europeu conhecido na região, embora a identificação ainda não seja certa.
O São Jorge afundou-se em 1524, durante a última expedição de Vasco da Gama, pouco antes da morte do navegador português na cidade de Cochim, na Índia, muito possivelmente vítima fatal de malária na véspera de Natal desse ano.
O naufrágio foi descoberto por Caesar Bita, arqueólogo subaquático dos Museus Nacionais do Quénia que recuperou artefactos do local, entre os quais lingotes de cobre e presas de elefante. O navio foi encontrado a uma profundidade de cerca de 6 metros, escondido pela densidade dos corais. Os investigadores conseguiram desenterrar partes das madeiras do navio em trincheiras arqueológicas.
Um “tesouro único”
Apesar de tudo, os arqueólogos sugerem que o naufrágio, um dos primeiros da zona, pode também ser o Nossa Senhora da Graça, outro navio português que afundou nas proximidades, em 1544, de acordo com um novo estudo, publicado a 18 de novembro no Journal of Maritime Archaeology.
A equipa terminou este mês a avaliação do local, confirmou Bita ao ZAP, revelando que foram recuperados “muitos materiais”, entre os quais cerâmica, lingotes de cobre, madeiras, tiras de chumbo e corda utilizada para a âncora. Todos “apontam para a possibilidade de o naufrágio ser o São Jorge”, garante.
A verificar-se que esta é mesmo a terceira armada do explorador português, este é um “tesouro único”, diz ao Live Science Filipe Castro, arqueólogo marítimo da Universidade de Coimbra e autor principal do estudo que viu os destroços pessoalmente: se for mesmo o São Jorge, terá “um valor histórico e simbólico significativo como testemunho físico da presença da terceira armada de Vasco da Gama em águas quenianas”, sublinhou em comunicado de março.
“Praticamente não há tratados de construção naval” destes navios: “não se sabe muito” sobre eles, disse o arqueólogo à RTP em março: “pode ser um dos primeiros galeões feitos em Portugal“.
Para identificar o naufrágio de forma conclusiva, os investigadores planeiam pesquisar os recifes de coral que se estendem por 25 quilómetros (15 milhas) a norte de Melinde, até Ras Ngomeni. As autoridades quenianas estão também interessadas em transformar o local num museu subaquático, de modo a preservar e exibir o curioso achado.
O eventual naufrágio do São Jorge, um dos oito portugueses desta época que estarão na área, é descrito como “poeira estelar arqueológica”, neste caso pelo editor da revista Wreckwatch, Sean Kingsley.
‘It is a treasure’: Wreck off Kenyan coast may be from Vasco da Gama’s final voyage https://t.co/eMGZ0xknuV
— Live Science (@LiveScience) November 25, 2024
Vasco da Gama, um dos mais famosos exploradores da história, abriu a rota marítima da Europa para o Oceano Índico em 1497, navegando em torno do Cabo da Boa Esperança, em África. As suas viagens pioneiras abriram caminho ao império comercial português no Oceano Índico, e o São Jorge foi um dos 20 navios que o acompanharam na sua última viagem, em 1524.
“Encontramos um caco de porcelana que faz mais sentido estar num navio de 1524, mas não sabemos”, disse ainda Castro, professor universitário. Por enquanto, e até ao regresso da equipa ao local, no ano que vem, “não temos a certeza”: o mistério permanece.