Se jogou Pokémon Go, foi cobaia de uma IA ideal para guerra

O Pokémon Go andou a captar secretamente, durante anos, os dados dos jogadores, para treinar um modelo de IA gigantesco que pode ser perigoso.

Os jogadores de Pokémon Go – um jogo de realidade aumentada (RA) mundialmente popularizado em 2016 – estão a ajudar a treinar um modelo de inteligência artificial (IA) que visa mapear o planeta.

Num comunicado publicado a 12 de novembro, a Niantic (empresa responsável pelo jogo) anunciou que está a utilizar dados recolhidos das suas aplicações de RA para construir um “grande modelo geoespacial” (LGM).

Tal como os grandes modelos de linguagem (LLM), como o ChatGPT, analisam texto para prever palavras, os LGM usam dados geográficos para inferir características de edifícios e espaços físicos.

A empresa revelou que já extraiu dados de mais de 10 milhões de locais digitalizados em todo o mundo, com os utilizadores a acrescentarem cerca de um milhão de novas digitalizações todas as semanas.

Segundo a Niantic, o novo modelo unirá estas redes locais para criar uma compreensão global de locais geográficos, permitindo aos computadores não só compreender espaços físicos, mas também interagir com eles de formas inovadoras.

“O LGM permitirá que os computadores não só percebam e compreendam os espaços físicos, mas também interajam com eles de novas formas, constituindo um componente crítico dos óculos de RA e de outros campos, incluindo a robótica, a criação de conteúdos e os sistemas autónomos“, lê-se no comunicado, citado pela Live Science.

Inovar para o bem… e para o mal

O LGM da Niantic utiliza o seu Sistema de Posicionamento Visual, que analisa imagens de câmaras de smartphones para identificar objetos com precisão de centímetros – o que pode ser útil em guerras.

Como escreve a “Live Science”, “isto pode parecer uma tarefa estranha”, mas só porque a nossa existência no mundo físico já nos expôs a inúmeros exemplos que nos ajudaram a construir uma compreensão espacial robusta.

Apesar de muitos jogadores não se surpreenderem com a recolha dos próprios dados para o desenvolvimento desta tecnologia, os críticos têm expressado preocupações sobre possíveis usos deste LGM.

Elise Thomas, analista sénior do Institute for Strategic Dialogue, alertou através de uma publicação na rede social X que sistemas como o da Niantic podem ser usados para fins militares, incluindo armas “para matar pessoas”.

“É tão incrivelmente codificado para os anos 2020 que o Pokémon Go está a ser usado para construir um sistema de IA que acabará quase inevitavelmente por ser usado por sistemas de armas automatizados para matar pessoas”, escreveu a especialista.

Os críticos receiam que algumas das potenciais aplicações da tecnologia da Niantic possam estar longe de ser benignas, levantando questões éticas sobre a aplicação desta tecnologia.

ZAP //

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