A primeira multinacional do mundo foi também a primeira empresa cotada em bolsa

A primeira multinacional do mundo foi também a primeira a ser cotada na bolsa de valores. Mas, o detalhe importante é que a primeira bolsa de valores — com um mercado público de obrigações e ações — foi fundada por essa mesma empresa.

Mais interessante ainda é que, durante 200 anos, a empresa proporcionou aos seus acionistas dividendos generosos e, quando acabou por falir, foi nacionalizada. E quase 100 anos depois, uma empresa australiana adquiriu o nome e marca.

Falamos-lhe da Vereenigde Oostindische Compagnie (VOC), criada em Amesterdão em 20 de março de1602, conhecida em inglês como Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Segundo a LBV, o governo dos Países Baixos, promotor e apoiante da companhia, pretendia contrariar os avanços comerciais britânicos na Ásia, concebendo à VOC o monopólio desse comércio durante um período inicial de 21 anos, dando-lhe mesmo o poder de manter exércitos, declarar guerra, cunhar moeda, estabelecer colónias ou assinar tratados.

Inicialmente, o quartel-general da companhia foi instalado em Ambon, mas em 1619, com uma frota de 19 navios, atacou Jayakarta, tirando o controlo da cidade ao Sultanato de Banten e estabelecendo-a como a sua capital operacional permanente.

Mudaram imediatamente o nome da cidade para Batávia — atual Jacarta.

Durante anos, os navios neerlandeses negociaram a partir desta cidade com o Japão, a China e a Índia: seda, algodão, porcelana, têxteis e especiarias transformaram a companhia numa gigante multinacional, ganhando gradualmente territórios e conquistando a costa portuguesa do Malabar, estabelecendo colónias como a Colónia do Cabo, que mais tarde deu origem ao grupo étnico Afrikaner.

Em 1669, a Companhia Holandesa das Índias Orientais era a empresa privada mais rica da história. Operava mais de 150 navios mercantes, protegidos por uma frota de 40 navios de guerra, e empregava mais de 50.000 pessoas.

Desde que foi criada, a empresa começou a emitir obrigações e ações para angariar os fundos necessários para as suas viagens comerciais. Para oferecer publicamente as suas obrigações, criou a Bolsa de Valores de Amesterdão, na Rua Damnrak, onde qualquer pessoa podia comprar ações da empresa, tal como hoje compramos e vendemos ações de muitas empresas.

Aqueles que adquiriram essas ações foram bem compensados pelo seu investimento, uma vez que a empresa pagava um dividendo anual de mais de 16%, que se manteve mesmo depois de 1730, quando o negócio começou a declinar.

Quando foi nacionalizada, a 1 de março de 1796, devido a dívidas, ainda possuía a ilha de Java, grande parte de Sumatra, as Molucas e vários portos na Península de Malaca. Todos estes territórios tornaram-se colónias holandesas, formando as Índias Orientais Holandeses.

Para além de ser a primeira empresa do mundo a ser negociada publicamente, a Companhia Holandesa das Índias Orientais foi também pioneira na adoção de uma imagem corporativa.

Numa altura em que este conceito era praticamente desconhecido, a empresa tinha um logótipo e uma bandeira desenhados profissionalmente — cujas cores coincidem com as da atual bandeira holandesa.

O logótipo, com um grande “V” com um “O” à esquerda e um “C” à direita, aparecia na maior parte dos bens da empresa, como navios, canhões e até na moeda que cunhou. Atualmente, ainda é reconhecível nas garrafas de vinho da Voyager Estate, uma empresa australiana que adquiriu a marca em 1995.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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