Investigadores confirmaram a ausência de moléculas vivas na matéria carbonosa de uma região onde há material e energia ideais para as reações químicas prebióticas.
Cientistas chineses encontraram, nas profundezas do mar na Dorsal Índica, compostos orgânicos que podem revelar como a vida se organizou no início da história da Terra: são processos complexos que envolvem a transformação de material “morto”, mas orgânico, por meios químicos até à formação de seres vivos.
A pesquisa teve como base um estudo anterior, de 2021, em que matéria orgânica abiótica (ou seja, sem vida) na escala minúscula dos nanómetros foi identificada na Fossa de Yap, no Oceano Pacífico.
A equipa de cientistas, liderada por Nan Jingbo, do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nanjing da Academia Chinesa de Ciências (NIGPAS), trabalhou em ideias que derivam do potencial dos sistemas hidrotermais de chaminés submarinas na geração da vida. Nestes locais, há material e energia ideais para as reações químicas prebióticas (que deram origem à vida) da Terra primitiva.
Para a criação de compostos orgânicos mais complexos, é necessário que, no passado, a catalisação de minerais por reações de polimerização (processo de formação de moléculas que cria hidratos de carbono e proteínas, por exemplo) tenha sido possível. Isto teria permitido, de acordo com o estudo publicado em outubro na PNAS, a evolução de compostos orgânicos simples para estruturas funcionais complexas, gerando a vida.
Para proceder à investigação, os cientistas enviaram um veículo tripulado apelidado de Shen Hai Yong Shi na expedição TS-10. Encontraram matéria abiótica na escala de micrómetros na crosta oceânica da Dorsal Sudoeste do Índico e notaram uma ligação entre a matéria orgânica e o produto das interações entre a água e a rocha das profundezas, com destaque para a goethite.
Com várias técnicas de espectroscopia, espectrometria e microscopia, os investigadores confirmaram então a ausência de moléculas vivas na matéria carbonosa da região, provando assim que a origem das moléculas era, de facto, abiótica, ou seja, provinha de material “morto”.
Com base nessa descoberta, foi calculado o papel crucial da goethite na síntese da matéria carbónica local. A matéria carbonosa abiótica é um “laboratório natural” nas dorsais oceânicas, que permite que as reações formadoras de matéria orgânica ocorram.
Descobrir tais processos ajuda os cientistas a entender como a vida pode ter tido origem no planeta Terra, mas também pode auxiliar a descoberta de matéria orgânica noutros planetas rochosos.
ZAP // CanalTech