A história de Chicago May, a “mulher mais perigosa do mundo”

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Mary Ann Duignan, mais conhecida como May Churchill Sharpe ou “Chicago May”.

Apreciadora do “caos social”, a mulher cujos anéis de diamantes eram “tão grandes como nozes” era figura familiar entre os jogadores, os gangsters e as cortesãs. Relembremos a vida e os crimes da notória Mary Ann Duignan.

No início dos anos 1900, Mary Ann Duignan, mais conhecida pelo pseudónimo “Chicago May”, tornou-se infame como uma das criminosas mais notórias do mundo.

Nascida em 1871 na Irlanda, a pobre camponesa virou vigarista mundial durante a sua luta contra as amarras irlandesas do casamento e emigração que marcaram os finais do século XIX.

Deixou a Irlanda em 1890, depois de roubar as poupanças da sua família para pagar a sua ida para os Estados Unidos. Ao contrário da maioria dos emigrantes, fez questão de partir em primeira classe.

“May saiu de casa a meio da noite, levando consigo as poupanças da sua família”, escreve a historiadora Lauren Byrne. “Ela gostava do caos social que causava”, escreve: “uma camponesa no meio da nobreza”.

Quando chegou a Nova Iorque, Duignan partiu rapidamente para o Nebraska, onde casou com Dal Churchill, o primeiro de vários maridos. Após a morte prematura de Churchill, mudou-se para Chicago, onde adotou o nome “Chicago May”.

Foi em Chicago que se deparou com grandes dificuldades económicas generalizadas. O desemprego e o número de sem-abrigo aumentaram e muitas mulheres, tal como May, viraram-se para o trabalho sexual para sobreviver.

“Ao aliar a prostituição ao roubo e à chantagem, tornou-se rapidamente uma figura familiar entre os jogadores, os gangsters e as cortesãs”, relembra o historiador Laurence William White.

Mas a excêntrica May estava longe de se olhar ao espelho e ver uma típica prostituta: especializou-se em seduzir homens, para depois os roubar antes dos encontros sexuais e, por isso ganhou fama como “Badger” (“Texugo”) — o nome perfeito para “uma vigarista que atrai a vítima com sexo e depois rouba-a antes de cumprir a sua parte do acordo”, detalha Byrne.

May queria sempre mais, e por isso decidiu voltar para Nova Iorque, onde alargou o seu repertório: chantagem era a nova tática da criminosa. Usava “cartas e fotografias comprometedoras” para extorquir e ameaçar as suas vítimas, que assim “faziam pagamentos substanciais e repetidos para evitar a exposição ou a ameaça de ira do seu fictício ‘marido enfurecido'”, escreve White.

O esquema era lucrativo e permitiu-lhe suportar uma vida de luxo. Os jornais já a conheciam como a mulher cujos “anéis de diamantes eram tão grandes como nozes”, escreveu por exemplo um jornal citado pelo JSTOR Daily, que nota que May chegou a ser classificada como “a mulher mais perigosa do mundo”.

Chicago May roubou literalmente de Norte a Sul do continente americano — até ao dia em que a sorte acabou.

Apertada pela lei, fugiu para a Europa, onde conheceu Eddie Guerin. Juntos, realizaram um assalto de alto risco a um escritório da American Express em Paris. Eddie acabou por ser preso — e May tramada pelo amor.

Quando Eddie foi preso, a criminosa regressou a França, onde acabou por ser condenada a cinco anos de prisão, em Montpellier. Sabida por natureza, encurtou a pena seduzindo e chantageando o médico da prisão para garantir a sua libertação.

O alcoolismo, problemas de saúde e constantes problemas legais foram a sua verdadeira prisão quando regressou aos EUA. “Teve um sucesso indiferente e teve frequentes problemas com a lei”.

A criminosa acabou por morrer em 1929 devido a complicações de uma cirurgia. Para muitos, fica para a memória como uma sobrevivente, e não como uma simples criminosa.

“As opções para uma mulher camponesa na Irlanda do século XIX eram o casamento ou a emigração”, escreve Byrne: “A monotonia do trabalho doméstico dificilmente era uma proposta atrativa para alguém que tinha atravessado o Atlântico em esplendor de primeira classe.”

Tomás Guimarães, ZAP //

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