As contradições de Martínez – parte 2

FPF

Roberto Martínez, selecionador nacional.

Em outubro, Martínez queria ter um médio esquerdino na seleção. Convocou Samu Costa. Agora, quis ter médios atacantes. Samu ficou de fora e não foi chamado nenhum médio canhoto. Dois médios atacantes lesionaram-se, entretanto, e o “defensivo” Samu foi o escolhido para os substituir.

No dia 4 de outubro, Roberto Martínez surpreendeu os mais distraídos ao convocar Samu Costa do Mallorca.

Na altura, o selecionador nacional justificou a escolha pelo percurso positivo que o médio tem vindo a fazer em Espanha e nas seleções jovens de Portugal e também por ser esquerdino.

Martínez destacou a importância de a equipa ter um esquerdino no meio-campo para dar equilíbrio: “O Samu é um jogador com um perfil muito interessante, que não temos. É dinâmico, enérgico, taticamente muito inteligente e depois joga com o pé esquerdo. Não temos no meio-campo ninguém que possa dar equilíbrio com o pé esquerdo”.

O médio de 23 anos acabou por se estrear na vitória (1-3) frente à Polónia.

Na última sexta-feira, Martínez anunciou os 26 convocados para o novo “estágio” e deixou Samu Costa de fora, não tendo convocado nenhum esquerdino, em alternativa.

Encontrada a (primeira) contradição do selecionador nacional, o jornalista João Correia, da Antena 1 questionou, na mesma conferência de imprensa, a razão pela qual nesta convocatória já não constava nenhum médio esquerdino, que tinha sido uma condição tão importante na convocatória anterior.

Martínez justificou dizendo que, desta vez, deixou Samu Costa de fora porque agora precisa de jogadores de perfil mais atacante.

“Já falei com o Samu, gostei muito do perfil dele (…) Agora está fora dos 26 porque agora a aposta é nos jogadores de ataque. Como não temos o Diogo Jota , a decisão é ter muita competitividade nos jogadores de segunda linha, como o Matheus Nunes, o Otávio, o Pedro Gonçalves, que chegam ao último terço e acho que é o estágio para eles (…) Temos o Palhinha e a polivalência do Renato Veiga e, por isso, neste estágio não precisamos de um jogador defensivo como o Samu“.

E eis que surge mais uma contradição

Entretanto, os jogadores “atacantes” Matheus Nunes e Pedro Gonçalves lesionaram-se e já não vão à seleção. Para os substituir foi chamado para apenas um jogador: contraditoriamente, o “defensivo” Samu Costa – mesmo tendo dito anteriormente que não precisava de jogadores defensivos “como o Samu”, especificamente.

O que terá mudado na estratégia de Roberto Martínez para os encontros que se avizinham frente à Polónia (sexta-feira) e Croácia (segunda-feira) que justifique estas trocas?

Esta não é a primeira vez que Roberto Martínez toma decisões contraditórias, desde que está no comando da seleção nacional.

Em junho, na convocatória para o Euro 2024, o técnico espanhol deixou Matheus Nunes de fora dos 26, tendo justificado a decisão com o facto de o jogador do Manchester City ter tido poucos minutos, ao longo da época.

“É difícil para nós saber se consegue fazer dois jogos no espaço de quatro dias. (…) Conhecemos muito o que o Matheus pode dar, mas não sabemos em que período”, justificou, à data.

Esta teria sido, desde logo, uma justificação válida e não contraditória, se Roberto Martínez não tivesse posto, na mesma convocatória, o nome de Pedro Neto, que, desde 9 de março, tinha jogado apenas 12 minutos, ao serviço dos Wolves.

Mais uma contradição: Matheus Nunes acabou por ir ao Euro 2024, para render o lesionado Otávio, tendo o selecionador nacional descrito aquela troca como “muito óbvia e natural” – mesmo tendo dito anteriormente que não sabia que garantias Matheus Nunes poderia dar à seleção portuguesa na competição.