Não te metas com o centro da Via Láctea

JPL-Caltech / NASA

Os braços espirais da Via Láctea.

Coração da nossa galáxia, onde mora o o buraco negro supermassivo Sagitário A*, é ainda mais energético do que se pensava.

Investigadores liderados por Pat Harding, físico do Laboratório Nacional Los Alamos, estão a investigar um violento mistério na Via Láctea.

De acordo com estudo publicado na The Astrophysical Journal Letters, a equipa descobriu que o coração da nossa galáxia abriga raios gama com mais de 100 TeV (teraelétrons-volt ou trilhões de elétrons-volt) de energia, o que mostra que o centro galáctico é ainda mais energético do que se pensava.

Como não observaram diretamente os raios gama, trabalharam com a chamada radiação de Cherenkov. Quando os raios gama atravessam a atmosfera da Terra, causam uma verdadeira chuva de partículas rápidas que se movem quase à velocidade da luz.

Essas partículas viajam mais rápido do que a luz através da água, emitindo radiação Cherenkov quando a atravessam. Esta é a estrutura do observatório High-Altitude Water Cherenkov (HAWC), composto por vários silos com mais de 180 mil litros de água, instalados a 3,9 km acima do nível do mar.

Ao longo de sete anos de observações, a equipa detetou 100 eventos emissores de raios gama, cada um com mais de 100 TeV. Após analisar os dados, concluíram que as emissões provinham do coração da Via Láctea, o que era mais ou menos esperado — afinal, é no coração que se encontra o buraco negro supermassivo Sagitário A*.

Este titã cósmico está a cerca de 30 mil anos-luz do Sistema Solar. Portanto, para que os raios gama nos tivessem alcançado, o buraco negro teria de produzir partículas ainda mais energéticas — no caso, essas partículas estariam no intervalo dos Petaelétronvolts (ou PeV), que são mil vezes mais energéticas do que os raios gama “comuns”.

Os protões PeV colidem com moléculas de gás interestelar para produzir raios gama, o que sugere que deve existir alguma fonte geradora dos protões PeV. Por enquanto, os astrónomos sabem que estes poderiam vir de fenómenos como explosões de supernovas e fusões de buracos negros, mas nenhum deles explica o que foi observado.

“A investigação confirma, pela primeira vez, uma fonte PeVatron de raios gama de energia ultraelevada num local na Via Láctea conhecido como a Dorsal do Centro Galáctico, o que significa que o centro é o lar de alguns dos processos físicos mais extremos do Universo”, comentou Harding. Estudos futuros poderão revelar qual é essa fonte misteriosa.

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