É provável que o seu “lado bom” nas fotos seja o esquerdo. Há uma razão

José Coelho / Lusa

Desde pinturas com centenas de anos até as selfies modernas, a maioria das pessoas prefere mostrar o lado esquerdo do rosto. A principal teoria aponta para a maior emoção expressa no lado esquerdo.

Já reparou para que lado vira a cabeça quando tira uma selfie? Se for para a esquerda, não é o único. Várias investigações psicológicas sugerem que muitas pessoas mostram inconscientemente a sua bochecha esquerda nas fotografias.

Este fenómeno tem as suas raízes muito antes da era dos smartphones, remontando ao tempo da pintura de retratos.

O enviesamento da bochecha esquerda foi identificado pela primeira vez na década de 1970, quando os investigadores Christopher McManus e Nicholas Humphrey, da Universidade de Cambridge, examinaram 1474 retratos da Europa Ocidental dos séculos XVI a XX.

As suas descobertas, publicadas na revista Nature, mostraram que cerca de 60% dos retratos apresentavam mais o lado esquerdo do rosto do sujeito.

Inspirados pelo seu trabalho, outros investigadores, como Martin LaBar, observaram uma tendência semelhante em fotografias mais contemporâneas, como as dos anuários universitários dos anos 70, explica o IFLScience.

Outras investigações confirmaram que esta tendência se estende a diferentes meios de comunicação. Quer estejam a posar para um retrato ou a tirar uma selfie, as pessoas parecem naturalmente preferir mostrar o seu lado esquerdo.

No entanto, foi encontrada uma exceção interessante nos auto-retratos, em que a face direita foi mais frequentemente retratada. Esta anomalia deve-se provavelmente ao facto de os artistas usarem espelhos para desenhar os seus auto-retratos, invertendo efetivamente os lados esquerdo e direito.

À medida que os telemóveis se tornaram omnipresentes, um estudo de 2015 aprofundou o preconceito em relação à bochecha esquerda na era digital.

Descobriu que as pessoas mostravam consistentemente uma preferência pelo lado esquerdo quando tiravam selfies normais, mas quando utilizavam o modo de espelho nos smartphones, surgia uma tendência para a bochecha direita.

A consistência desta tendência é notável em todas as culturas e géneros, com estudos que abrangem cidades como Nova Iorque, São Paulo, Berlim, Moscovo e Banguecoque a apresentarem padrões semelhantes.

Curiosamente, outros estudos mostraram que as selfies orientadas para a esquerda recebem frequentemente mais respostas em plataformas como o Instagram, e esta tendência estende-se mesmo a fotografias de chimpanzés.

Embora o viés da bochecha esquerda esteja bem documentado, entender por que ele ocorre tem se mostrado um desafio. McManus e Humphrey propuseram originalmente várias explicações, sendo uma delas o facto de os artistas destros poderem achar mais fácil retratar perfis virados para a esquerda.

No entanto, isto não explica porque é que o preconceito continua na era da fotografia.

Outra hipótese é que o lado esquerdo do rosto pode ser visto como mais atrativo ou mais fácil de reconhecer pelo cérebro, mas continua a não haver provas conclusivas. A teoria mais aceite, no entanto, gira em torno da expressão emocional.

Um estudo de 2017 publicado na revista Laterality observou que as expressões faciais são frequentemente assimétricas, com maior emoção expressa no lado esquerdo do rosto. Essa intensidade emocional natural pode explicar por que as pessoas subconscientemente preferem mostrar a bochecha esquerda.

Embora as razões que lhe estão subjacentes ainda não sejam totalmente compreendidas, o enviesamento da bochecha esquerda oferece um vislumbre intrigante dos meandros do comportamento humano, que persiste há séculos, desde os retratos pintados até às selfies do Instagram.

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