Os lagos dos Açores enfrentam um ponto sem retorno

As alterações climáticas estão a causar mudanças profundas nos ecossistemas lacustres dos Açores, particularmente nos lagos da ilha de São Miguel.

Um estudo publicado a 8 de outubro na revista Nature Communications earth & environment revela que a biodiversidade de diatomáceas, algas unicelulares que estão na base da cadeia alimentar aquática, sofreu uma redução média de 27% em todos os lagos da ilha desde 1982, ano em que a temperatura no hemisfério norte ultrapassou em 0,35 ºC a média do século XX.

Esta perda de espécies é preocupante, uma vez que agora ocorre à escala regional, o que indica uma homogeneização dos ecossistemas.

“O mais grave destes dados não é a redução de quase 30% das espécies de diatomáceas num lago, mas sim que se trata de uma diminuição que verificámos ter ocorrido à escala regional, em toda a ilha, o que indica que está a ocorrer uma homogeneização”, alerta o investigador do Museu Nacional de Ciências Naturais Miguel Matias em comunicado da Universidade dos Açores.

Vítor Gonçalves/Santiago Giralt

De direita para a esquerda e de cima para baixo: Recolha de amostras na lagoa Azul das Sete Cidades; algumas das amostras recolhidas nas diferentes lagoas dos Açores; vista da lagoa
do Fogo e acumulação de cianobactérias na margem da Lagoa das Furnas.

No passado, as reduções de biodiversidade eram pontuais e os ecossistemas conseguiam recuperar, mas as alterações climáticas atuais parecem ter ultrapassado um ponto sem retorno, com implicações graves para a capacidade dos lagos prestarem serviços ecossistémicos essenciais, como a regulação hídrica e a preservação da biodiversidade.

Os efeitos das alterações climáticas são agravados por pressões antropogénicas, como o desenvolvimento de fitoplâncton composto por algas menores e cianobactérias, que bloqueiam a luz solar, reduzindo o habitat das diatomáceas bentónicas e simplificando os ecossistemas.

O recente estudo alerta que estas mudanças nos lagos açoreanos podem estar a ocorrer também noutros ecossistemas lacustres de zonas insulares e isoladas a nível global.

Com estes dados, os investigadores defendem a necessidade urgente de implementar processos de restauração ecológica que aumentem a diversidade ambiental no arquipélago.

Embora seja impossível reverter completamente a degradação dos ecossistemas, é essencial reduzir as pressões locais, como as atividades agrícolas nas bacias hidrográficas, para preservar os serviços ecossistémicos necessários para as populações locais.

A proposta da equipa passa por concentrar esforços em pontos específicos da ilha, assegurando que a restauração ecológica seja compatível com as necessidades económicas e sociais da população.

ZAP //

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