EUA querem investir no lítio em Portugal. Será um aliado na “guerra” contra a China

José Sena Goulão / Lusa

Jose W. Fernandez, vice-secretário de Estado norte-americano para o Crescimento Económico, Energia e Ambiente

Jose W. Fernandez, responsável da administração Biden, esteve na segunda-feira em Portugal e aproveitou para incentivar o país a explorar os seus recursos de lítio, apesar da “estratégia predatória” da China.

O vice-secretário norte-americano para Crescimento Económico, Energia e Ambiente defendeu a necessidade de diversificar as cadeias de abastecimento e ter infraestruturas seguras e que os investimentos portugueses são bem-vindos.

Jose W. Fernandez, que falava num encontro com jornalistas na embaixada dos Estados Unidos, em Lisboa, no âmbito de uma visita a Portugal, adiantou que em muitas das conversas que tem tido com vários países em diferentes partes do mundo a ênfase tem estado na “necessidade de diversificar” a cadeia de abastecimento.

Não apenas na produção das fontes, mas também de portos, de infraestrutura portuária e afins.

“É por isso que continuamos a insistir na necessidade de infraestruturas seguras” e de diversificar, em termos gerais, acrescentou, referindo que esta visão existiria mesmo sem a guerra.

Foi “algo que aprendemos durante a covid e aprendemos de maneira difícil”, já que “ter uma ou duas fontes de fornecimento pode ser perigoso”, prosseguiu.

Sobre o investimento português nos Estados Unidos, Jose W. Fernandez vê essa aposta “positivamente”. “Saudamos os investimentos portugueses nos Estados Unidos”, nomeadamente no setor da energia e “pensamos que está a ter sucesso”, considerou.

A questão da exploração do lítio também não faltou, com Fernandez a dizer que já teve conversas com duas empresas portuguesas — provavelmente a Lusorecursos e a Sanannah — que disseram quais são as suas necessidades e que têm grandes planos para os “depósitos substanciais” de lítio em Portugal.

“Estão à procura de financiamento” e de clientes “e nós queremos ajudar e achamos que podemos”, continuou.

Um dos principais obstáculos identificados pelas empresas foi a dificuldade em atrair investidores devido à quebra no valor do lítio. A culpa deste problema é da China, aponta o vice-secretário norte-americano.

“Está a produzir muito mais lítio do que hoje é necessário no mundo, o que já fez cair os preços a pique, de 80 mil para 15 ou 10 mil dólares. É intencional e é uma estratégia predatória, para eliminar a concorrência. A oferta excessiva de lítio chinês está a prejudicar os projetos em Portugal”, considera Fernandez.

Apesar das adversidades, Fernandez referiu que as empresas em Portugal permanecem otimistas quanto às oportunidades que o mercado futuro de lítio apresenta e prevê uma recuperação entre 20% e 30% nos preços.

O responsável norte-americano diz ainda que Washington vai incentivar as empresas dos EUA a apostar em Portugal. “Não podemos dizer às empresas americanas onde investir, mas podemos colocar os portugueses em contacto com instituições financeiras e investidores interessados”, promete.

No plano das relações comerciais entre Portugal e os Estados Unidos, Fernandez referiu que os dois países estão num caminho positivo. Em 2024, o comércio bilateral cresceu 25%, com os EUA a consolidarem a sua posição como o maior parceiro comercial de Portugal fora da União Europeia.

Além disso, os EUA tornaram-se o maior investidor estrangeiro em Portugal, impulsionados por setores como as energias renováveis e centros de dados.

A visita de Fernandez reforçou o compromisso de Washington com o fortalecimento das relações comerciais e económicas com Portugal, ao mesmo tempo que enfrenta os desafios globais apresentados pela China.