Fumo dos incêndios florestais provoca comportamentos estranhos nas aves. Revisão revelou mais de 200 registos de aves de múltiplas espécies a incubar ninhos… vazios. Casos acontecem sobretudo na Europa.
O fumo dos incêndios florestais ocidentais pode estar a ter um impacto maior do que se pensava nas aves, de acordo com estudos recentes.
Este fumo, que contém substâncias químicas e partículas perigosas, não é apenas uma preocupação para os seres humanos, mas também para a vida selvagem, incluindo as aves, que podem ver influenciadas a sua saúde e comportamento, especialmente durante a época de nidificação — concluiu um estudo publicado no The Wilson Journal of Ornithology — mas também ao longo das suas vidas.
Um comportamento invulgar foi observado num par de mariquitas-azuis-de-garganta-preta na Floresta Experimental de Hubbard Brook, em New Hampshire, nos Estados Unidos, durante o verão de 2023.
Depois de construir o seu ninho, a fêmea do par começou a incubá-lo como se contivesse ovos, mas o ninho estava vazio. O comportamento invulgar chamou a atenção da ecologista Sara Kaiser e da sua equipa.
Uma revisão da literatura científica revelou mais de 200 registos de aves de 11 espécies diferentes, sobretudo na Europa, que apresentavam um comportamento semelhante, frequentemente associado à poluição ambiental.
“Nunca tinha ouvido falar de nada assim”, disse Kaiser.
Embora a causa direta do fracasso dos ninhos das mariquitas permaneça incerta, a correlação entre o fumo dos incêndios florestais e o comportamento anormal das aves tornou-se um foco de investigação maior nos últimos tempos.
À medida que os incêndios florestais se tornam mais frequentes e graves, a exposição ao fumo está a tornar-se um risco maior para as aves, cujos sistemas respiratórios altamente eficientes lhes permitem mover um grande volume de ar através dos pulmões.
No entanto, esta adaptação também as torna mais vulneráveis às partículas finas, como as PM2.5, presentes no fumo dos incêndios florestais — partículas podem danificar os pulmões das aves e prejudicar a sua saúde geral.
Um estudo separado, realizado na área da Baía de São Francisco pela ecologista Olivia Sanderfoot e a sua equipa, realça ainda mais os efeitos nocivos do fumo dos incêndios florestais nas aves, de acordo com a Smithsonian. A equipa descobriu que as aves expostas ao fumo dos incêndios florestais durante a época dos incêndios perderam massa corporal, o que afetou a sua capacidade de migração e sobrevivência.