Ventura virou especialista em estatística: onde foi buscar aqueles 90%?

A maioria dos incêndios em Portugal não foi propositado. Mas o líder do Chega tem duas sugestões que resolveriam quase tudo.

Luís Montenegro disse que o Governo vai “atrás” dos incendiários que, segundo o primeiro-ministro, foram os principais responsáveis – e propositados – dos incêndios que destruíram tantos locais no Norte e Centro de Portugal.

Na semana passada, Montenegro falou em “coincidências a mais” e “interesses particulares” na origem dos incêndios. “Nós não vamos largar estes criminosos, nós não vamos largar este combate a quem coloca todo um país em causa”, assegurou Luís Montenegro.

Mas os números oficiais não apoiam esta tese do primeiro-ministro.

Num ano de 2023 que nem registou qualquer vítima mortal, no meio de cerca de 7.500 incêndios rurais, metade foi causado por uso indevido do fogo.

O relatório anual da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais mostra que apenas 31% foram causados por incendiários, propositadamente. Ou seja, mais de dois terços dos incêndios não teve origem em incendiarismo.

15% dos fogos surgiram por acidente, 4% por outras causas não detalhadas.

Já neste ano, e segundo o relatório nacional provisório de incêndios rurais divulgado pela RTP, entre quase 4.000 incêndios, 33% foram por incendiarismo – praticamente a mesma percentagem do ano passado.

A Polícia Judiciária já tinha feito o retrato do incendiário em Portugal: tem problemas de integração social, vícios de alcool e drogas, e perturbação mental.

Entretanto, André Ventura apresentou duas sugestões que, segundo o líder do Chega, iriam resolver quase tudo.

“Quando os reclusos trabalharem a limpar matas e os incendiários forem considerados terroristas vamos ter menos 90% de incêndios em Portugal. Tenho a certeza disso!”, escreveu Ventura, no X.

Pedro Benevides, que critica tantas vozes públicas que parecem ser especialistas em incêndios (e não são), disse que Ventura “se armou em bombeiro de serviço”.

“Temos aqui um especialista. Não sabia. Especialista em equações. Andamos aqui a discutir este assunto há décadas e, aparentemente, há aqui uma solução muito fácil. É bom que o poder político ouça Ventura”, ironizou o comentador na rádio Observador.