Na I Liga portuguesa, um treinador dura apenas nove meses. Estudo da Universidade do Minho detalha o fenómeno.
Roger Schmidt foi o caso mais recente e mediático. Mas o ex-treinador do Benfica não foi o único a ser despedido já nesta época futebolística.
Daniel Sousa já saiu do Sporting de Braga. Tozé Marreco deixou o Gil Vicente ainda antes do início do campeonato. E ainda estamos em Setembro.
Não é só em Portugal: juntando Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália, ao longo de 11 épocas houve 1.074 despedimentos, envolvendo 598 treinadores. É uma média de praticamente 100 demissões por temporada.
O estudo foi feito por dois economistas da Universidade do Minho, que chegaram a uma conclusão principal: a longevidade de um treinador nesses campeonatos depende de obter um número razoável de pontos no campeonato nacional face ao orçamento total da sua equipa.
Ou seja, quanto menos pontos obtidos e quanto maior o orçamento do clube, mais provável é a saída do técnico: “O 7.º lugar do Benfica à 4.ª jornada não é o mesmo que um 7.º lugar do Moreirense”, descreveu Paulo Reis Mourão.
O caso de Schmidt é um exemplo: “Em cada clube o custo médio (orçamento dividido pelos pontos obtidos) e o custo por golo são bem diferentes – e isso levou à saída do técnico Roger Schmidt”, continuou um dos autores do estudo, ao lado do também economista Paulo Araújo.
É a primeira vez que o custo médio é avaliado cientificamente neste âmbito. “O treinador é alvo de muitas pressões e percebemos aqui que há uma correlação económica quando se decide a sua manutenção ou saída do clube”.
O estudo mostrou que há vários factores que influenciam a longevidade do treinador principal: perfil financeiro do clube, competitividade de equipas vizinhas, caraterísticas individuais do treinador, ou a “paciência” de dirigentes e adeptos – que esperam resultados a curto prazo.
Histórico, idade ou nacionalidade não influenciam em geral este fenómeno.
“Se o treinador está a fazer um campeonato interno desastrado, isso pode eventualmente ser ofuscado por haver equipas rivais também com más performances ou por o clube até estar com resultados notáveis em provas europeias”, justifica Paulo Reis Mourão.
Esta análise centrou-se no período entre as épocas 2009/10 e 2019/20, lê-se em comunicado enviado ao ZAP.
Ao longo dessa década, a maioria das saídas foi anunciada numa das primeiras 14 jornadas do respetivo campeonato. Em Inglaterra o risco de despedimento também aumenta nas últimas jornadas.
Por regra, o cenário de despedimento dispara quando se acumulam derrotas nos 5 a 10 jogos mais recentes; ou se o treinador pode sair para um clube de outras dimensões.
Se a equipa está em várias competições, a probabilidade de despedimento do treinador baixa 15%.
Portugal é, sem surpresa, o país onde um treinador se aguenta durante menos tempo, em média: 9 meses. Seguem-se França (10 meses), Itália (11 meses), Alemanha, Inglaterra e Espanha (mais de 2 anos).