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Incêndios na Madeira ameaçam o “maior tesouro” do arquipélago

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Chamas na Madeira continuam a ser combatidas, mas uma “relíquia” que cobre 20% do arquipélago está a ser ignorada pelas autoridades. “É imprescindível investir na conservação desta floresta”, avisa a Universidade de Coimbra.

Há cinco dias que as chamas se espalham pela ilha da Madeira. Só desde quarta-feira, já arderam mais de 5000 hectares: quase tanta área como em todo o ano de 2023.

Ainda de acordo com os dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), não ardia tanta área na Madeira desde 2016.

A área ardida este ano correspondia, este domingo, a 5,6% da ilha. Uma vez que esta segunda-feira há ainda duas frentes ativas, tudo indica que essa percentagem vai crescer.

Pede-se ao presidente do Governo Regional: não cometa os erros do passado, “iniciados nas zonas altas de São Roque e que viriam a deixar o Funchal sob forte ameaça”, apelou o líder da oposição, Juntos Pelo Povo (JPP), Élvio Sousa, este sábado.

Mas Miguel Albuquerque tem estado, também ele, “sob fogo” desde que o incêndio deflagrou na Ribeira Brava.

Poucas horas depois de ter dito, alegadamente, que os meios do arquipélago presentes no terreno eram suficientes, o presidente do governo regional aceitou a ajuda da República.

No sábado, às 13:00, o secretário regional da Proteção Civil Pedro Ramos dizia não ser necessária a ajuda do continente; cerca de duas horas depois, a Proteção Civil Regional anunciou que a região ia receber elementos da Força Operacional Conjunta da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar “desde o início” a origem do incêndio, que deflagrou na quarta-feira no concelho da Ribeira Brava e se propagou para outros municípios.

“Relíquia” em perigo

Com 20 milhões de anos, a Floresta Laurissilva da Madeira cobre 20% do arquipélago. É o “último reduto de um período subtropical” e alberga seres vivos que existem desde o Período Terciário.

Está na base da economia da região, uma vez que é a partir da sua humidade que se produzem vários alimentos. Está agora, também, em risco.

“No dia em que isso deixar de acontecer, a ilha perderá toda a sua capacidade produtiva, e perde também o maior tesouro que tem”, avisa a investigadora Helena Freitas em declarações à TSF, que está “perplexa” com a “lentidão” das autoridades no combate às chamas.

Achada Teixeira/Flickr

Encumeada, na Madeira, é onde lavra uma das frentes ainda ativas dos incêndios do arquipélago.

“É uma relíquia“, considera a professora da Universidade de Coimbra, “e por isso é classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade”, desde 1999.

É ” imprescindível investir na conservação desta floresta”, e “não foi mencionada uma única vez esta relíquia da Madeira”, lembra a investigadora na área da ecologia e da biodiversidade.

Única no mundo, a Laurissilva alberga mais de 1.200 espécies de plantas, muitas das quais endémicas, como o loureiro (Laurus novocanariensis), o til (Ocotea foetens) e o barbusano (Apollonias barbujana). É também habitat de várias espécies de aves raras, como o pombo-trocaz (Columba trocaz), também ele exclusivo da ilha da Madeira.

Entretanto, esta terça-feira prossegue o combate às chamas em cinco frentes ativas em áreas de difícil acesso, em três concelhos, com as chamas a lavrar com pouca intensidade.

Uma das frentes é no concelho da Ribeira Brava, que pelas 11 horas mantinha uma frente ativa na Furna. No entanto, a situação está “bastante calma”, com “alguns pequenos focos de incêndio e alguns reacendimentos que estão a ser monitorizados e vigiados pelos bombeiros”, disse o presidente do município, Ricardo Nascimento. A frente que lavrava na Encumeada foi extinta.

No Paul da Serra, na zona de Bica da Cana, estava esta segunda-feira a a frente que mais preocupava os 150 operacionais apoiados por 40 viaturas e um meio aéreo esta segunda-feira. No Curral das Freiras “ocorreu um reacendimento” ao início da tarde de segunda.

Tomás Guimarães, ZAP //

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3 Comments

  1. Agradeçam ao exmo. M. Albuquerque pela bazófia e fleuma. Tanta disputa com o AJJ e afinal revelou ser tão orgulhoso e egocêntrico como o anterior presidente… Há alguma vergonha em pedir ajuda, se necessário? A Madeira não tem meios capazes para enfrentar estas situações, humanos e equipamentos (aviões, como os Canadair), daí ser tão importante haver apoio externo e entreajuda. Mas há quem se ache maior que os outros. É só triste. 2016 não ensinou nada a quem deveria tomar decisões bem céleres e assertivas. Politiquice bacoca

  2. É verdade! Não ouvi uma única vez falarem da floresta Laurissilva! Penso que é demonstrativo de uma mentalidade primária e ignorante.

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