Durante décadas, cientistas têm-se questionado sobre a forma como partes estáveis dos continentes da Terra podem subir gradualmente para formar algumas das características topográficas mais acentuadas do planeta, como os planaltos da África Austral.
Agora, graças a um estudo publicado esta semana na revista Nature, os investigadores acreditam ter descoberto a resposta.
A equipa de investigação descobriu que, quando as placas tectónicas se separam, desencadeiam ondas poderosas nas profundezas da Terra.
Estas ondas podem fazer com que as superfícies continentais se elevem mais de um quilómetro, o que explica a formação de grandes escarpas e planaltos extensos.
Estas formas de relevo desempenham um papel importante na modelação do clima e da biodiversidade das suas regiões.
“Os cientistas há muito que suspeitam que as Grandes Escarpas, como as que rodeiam a África do Sul, se formam quando os continentes se fendem e acabam por se separar”, explicou o líder da investigação, Thomas Gernon, em declarações à BBC Science Focus.
“No entanto, tem sido difícil compreender por que razão as partes interiores dos continentes, longe destas escarpas, também se elevam e sofrem erosão”.
Os investigadores descobriram que, quando os continentes se dividem, o estiramento da crosta continental cria movimentos no manto terrestre, gerando um “movimento de varrimento” que perturba as fundações profundas dos continentes.
Quando este material quente atinge a superfície continental mais fria, arrefece e volta a afundar-se, criando um ciclo convectivo.
Este ciclo conduz a uma instabilidade no manto, que perturba o material vizinho e desencadeia uma reação em cadeia. Uma “onda profunda do manto” viaja então ao longo da base do continente a um ritmo de 15-20 quilómetros por milhão de anos.
Embora lento, este movimento começa a erodir camadas de rocha das raízes continentais, fazendo com que o continente se eleve através de um processo chamado isostasia.
Esta elevação, por sua vez, desencadeia a erosão da superfície através da meteorização, que ocorre ao longo de milhões de anos. À medida que a erosão remove grandes quantidades de rocha da superfície, o continente eleva-se ainda mais, criando planaltos elevados.
Embora África tenha servido de modelo para o estudo, Gernon sublinhou que estes processos ocorreram a nível global – desde a América do Sul e do Norte a partes do Norte da Europa, Antártida e Gronelândia.