Imagine que o tecido mole do seu cérebro está ferido e não consegue curar-se. Esta é a dura realidade para milhões de pessoas em todo o mundo que sofrem de doenças neurológicas como traumatismos, acidentes vasculares cerebrais, epilepsia e doenças neurodegenerativas.
Os neurónios são células cruciais para o nosso cérebro e sistema nervos.
Infelizmente, ao longo da nossa vida não são criados mais neurónios do que aqueles com que nascemos.
Além disso, não é possível regenerar ou rejuvenescer os neurónios que se danificam com o tempo ou por via de acidentes ou doenças neurodegenerativas — o que resulta na perda permanente de neurónios à medida que envelhecemos.
Quando se perdem neurónios, podem surgir problemas graves no funcionamento do cérebro, e esta perda tem um impacto significativo nas nossas capacidades e na nossa vida quotidiana.
Agora imagine um mundo onde é possível fazer crescer novamente estes neurónios!
Essa é a promessa de um novo estudo, conduzido por duas equipas de cientistas lideradas por Magdalena Götz, professora de genómica fisiológica da Universidade Ludwig Maximilian de Munique (LMU) e diretora do Centro de Células Estaminais Helmholtz Munique.
Na base do estudo, que foi publicado em julho na Nature Neuroscience, está um processo sofisticado chamado reprogramação neuronal direta, em que a função de uma célula é transformada noutra — basicamente, as células não-neuronais, conhecidas como células gliais, são convertidas em neurónios funcionais.
Este processo, que envolve pequenas modificações químicas que ocorrem no epigenoma, tem um grande potencial para o tratamento de doenças neurológicas, embora apresente as suas próprias complexidades e desafios.
O epigenoma é o complexo sistema biológico que coreografa os genes que estão activos em diferentes células e em diferentes momentos.
A equipa de Magdalena Götz consegui agora pela primeira vez mostrar como é que este padrão intrincado do epigenoma é dirigido por um único fator de transcrição.
Esta autêntica proeza da engenharia biológica, que foi conseguida com novos métodos de caraterização do epigenoma, permitiu à equipa de investigadores fazer uma descoberta revolucionária: o regulador de transcrição Ying Yang 1.
Tal como o símbolo que lhe dá o nome, o Ying Yang 1 equilibra o processo de conversão de astrócitos em neurónios.
Mas como é que o faz? Bem, abre a cromatina para a reprogramação e interage com o fator de transcrição para conduzir a transformação da célula, explica o Earth.com.
A descoberta da Ying Yang 1 é um avanço significativo: representa um salto em frente na compreensão da reprogramação celular e aproxima-nos de forma tentadora de soluções terapêuticas para uma série de doenças neurológicas devastadoras e ajuda-nos a compreender como os neurónios se podem regenerar.
“A proteína Ying Yang 1 é crucial para conseguir a conversão de astrócitos em neurónios”, explica Götz. “Estas descobertas são importantes para compreender e melhorar a reprogramação das células gliais em neurónios, aproximando-nos assim de soluções terapêuticas.”
Esta promessa de regeneração neuronal através da reprogramação direta convida assim a um renovado sentimento de esperança para as pessoas afetadas por doenças neurológicas.