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Marcelo esqueceu-se do que Tony Carreira fez?

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Presidente da República condecorou um cantor que admitiu que errou no famoso caso dos plágios de sucessos “seus”.

Estávamos em 2009, logo nas primeiras semanas do famoso programa 5 Para a Meia-Noite, quando me deparei pela primeira vez com as “semelhanças” entre diversos sucessos de Tony Carreira e músicas de outros tempos.

Foi Nilton que mostrou – neste excerto – as alegadas “teorias da conspiração” sobre as canções Adeus até um dia, Depois de ti mais nada, Esta falta de ti e Leva-me ao céu – todas fotocópias (parciais ou praticamente integrais) de outras canções, todas elas estrangeiras.

Foi preciso esperar 8 anos desde esta espécie de denúncia pública, mas em 2017 alguém “acordou” e o Ministério Público acusou Tony Carreira e Ricardo Landum de plagiarem 11 músicas: além das quatro destacadas por Nilton, também entraram na lista as músicas Já que te vais, Nas horas de dor, O anjo que eu era, Por ti (tudo faria outra vez), Porque é que vens, Se acordo e tu não estás e ainda o grande sucesso Sonhos de menino.

Na altura, o Observador deixou um artigo com as comparações, para cada um ficar com a sua opinião.

Todas elas com “coincidências” evidentes, misturando “influências” de cantores pouco ou nada conhecidos em Portugal – excepção para a Por ti (tudo faria outra vez), quase fotocópia de Je t’aime, de Lara Fabian.

A editora Universal já se tinha queixado de três plágios, anos antes.

A táctica ficou evidente para muitos analistas: o compositor Ricardo Landum e o próprio António Antunes (Tony Carreira) ouviram músicas que só se ouviam lá fora – recordemos que Tony viveu muitos anos em França, onde começou a sua carreira musical, com sucesso entre emigrantes, enquanto ouvia muitas melodias francesas que não passavam por cá.

Tony Carreira e Ricardo Landum, como descreveu o próprio Ministério Público, copiaram estrutura, melodia, harmonia, ritmo (às vezes até a letra) e lançaram as suas “criações” para o mercado português, confiando que em Portugal nunca iriam reparar nos plágios, porque não conheciam os originais.

Até que apareceu a internet.

Julgamento? Nunca

Mas, voltando ao processo, no início Tony Carreira disse que a queixa não tinha fundamento. A sua agência até lembrava que nenhum autor dos originais se tinha queixado de nada.

Poucos dias depois, admitiu na televisão que tinha “bebido de outros autores”, resultado da “falta de experiência”. Acrescentou: “Não posso negar: há aqui canções que são parecidas”.

Plágios? Só de cinco temas, assegurou o mesmo António Antunes. “Errei, assumi-o e assumo-o de forma clara. Não batam mais, já chega. Errei por falta de experiência”, comentou, assegurando que alguns dos autores dos originais já tinham recebido o dinheiro que era suposto receberem, inclusive com multas.

Ainda houve um primeiro acordo em tribunal entre a editora Companhia Nacional de Música e Tony Carreira – que depois ficou sem efeito.

Mas António Antunes nunca foi a julgamento. Em 2018 a Justiça portuguesa definiu que o cantor iria pagar 10.000 euros à Câmara da Pampilhosa da Serra e outros 10.000 euros à Associação de Apoio às Vítimas de Pedrógão Grande. Tudo para ajudar vítimas de incêndios.

Ricardo Landum iria pagar 2.000 euros a uma instituição particular de solidariedade social à sua escolha.

Já no caso da Universal, surgiu um acordo, diferente, em que ficou definido que Tony Carreira afinal seria “adaptador” das canções e não “criador” das mesmas.

Condecorações

Toda esta sequência é recuperada porque o mesmo António Antunes foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa.

Marcelo Rebelo de Sousa está em Paris para assistir ao início dos Jogos Olímpicos, mas aproveitou a viagem para condecorar Tony Carreira com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

É uma “homenagem à comunidade portuguesa em França”, através deste “símbolo”, deste “grande da comunidade”, justificou Marcelo.

Recordando palavras do próprio artista: “Não batam mais, já chega” – não é justo estar sempre a bater… mas será justo o Presidente da República condecorar alguém que roubou músicas aos outros, alegando que as obras (algumas com grande sucesso) eram suas ou de Landum? Isto já depois de, em 2016, ter sido condecorado pelo Governo… francês!

Até poderíamos avisar que foi aqui aberto um precedente: alguém agora poderia começar a copiar músicas, dizia que eram suas, tinha sucesso e ainda passava a ser comendador.

Mas a internet não deixa.

António Antunes não é o único cantor português a pegar em músicas estrangeiras e a cantar à sua maneira. Mas, como lembrou José Cid, uma coisa é assumir versões logo no lançamento do single ou do álbum (como Marco Paulo fez várias vezes) e pagar os respectivos direitos de autor por isso; outra coisa é roubar e depois ainda ganhar dinheiro com o roubo.

Plágio, roubo, mentira, “desvios”. O crime compensa. Para Marcelo, parece que compensa.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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9 Comments

  1. Muito bem escrito, parabéns. Subscrevo tudo o que aqui ficou escrito neste artigo. Portugal tornou-se, não uma república das bananas, mas uma república de bananas onde o bom senso parece que foi revogado e onde Marcelo é o expoente máximo desta estranha forma de vida, que é o título de uma canção que eu escrevi 🙂

  2. Não sou particularmente fã, mas, existem outros preso, condenados, suspeitos etc, que foram condecorados mas, estão, continuam a receber pagos pago todos nós, reformas vitalícias e mais não sei o quê… Alguém se insurge contra estes?
    Não, vão insurgir-se com um cantor

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  3. Nem vale a pena comentar ! Decisões politicas a homenagear cidadões que nada fazem pela comunidade a não ser criar multidões de mulheres beatlemaniacs com musicas roubadas a outros !!
    Este país não tem mesmo vergonha !

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  4. Não tem comentários, é triste estas condecoracoes, não existem pessoas mais merecedoras? Tenho muita pena, o que é que este cantor Toni deu ao país? Tratem e preocupem-se com is idosos e crianças, façam condecoracoes aos sem abrigo que estão no chão à dormir, nem casa de banho tem, assistência de saúde e são marginalizados, vão aumentar, com a quantidade de pessoas que vão para a rua, acabem com o alojamento local de vez, aí até condecorava quem o fizesse.

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  5. Nunca gostei desse vaidoso e soberbo. Não nos podemos esquecer do que fez ao namorado da filha quando do acidente que culpa teve o rapaz quere estragar lhe a vida gostava de ver se fosse ao contrário com um dos filhos dele. Seja mais humilde não ficava mal o dinheiro não é tudo.

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  6. Eu acho que o Sr. Presidente Marcelo devia era fazer como o Presidente. Biden quando já não sabe aquilo que faz e só vê alaranjado destruir o melhor prim.Ministro que alguma vez este País teve já não admira condecorar ladrões de Musicas no estrangeiro para terem fama em Portugal

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  7. Veremos ainda um dia essa fundação dos carreira!… Outro plágio, ou uma forma de brincar aos pobrezinhos, para lucrar mordomias cínicas e aplausos fingidos.

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