A Coreia do Norte voltou a enviar balões carregados de lixo em direção ao Sul, anunciou hoje o exército sul-coreano, numa aparente resposta ao reinício das emissões de propaganda por altifalantes por parte de Seul.
Depois de algumas semanas de pausa, a Coreia do Norte retomou o envio de balões de ar quente carregados de lixo, estrume e fezes para a Coreia do Sul.
“O Norte está a lançar um novo lote de balões carregados de lixo”, declarou o Estado-Maior sul-coreano, em comunicado, especificando que estavam a voar em direção à parte norte da província de Gyeonggi, que circunda Seul.
“Por favor, informem o exército ou a polícia e evitem qualquer contacto direto com estes objetos”, acrescentou.
Pyongyang já lançou mais de dois mil balões carregados de lixo através da fronteira intercoreana desde maio, que apresenta como retaliação aos balões de propaganda enviados por militantes sul-coreanos.
A última série de balões surge três dias depois de Seul ter anunciado o recomeço das emissões em altifalante de propaganda contra o regime norte-coreano.
Os balões enviados pela Coreia do Norte transportam habitualmente lixo, incluindo garrafas de plástico e baterias, bem como o que o Estado-Maior chamou de “sujidade”.
Seul tinha avisado que ia alargar o âmbito dessas emissões se o Norte persistisse no envio de balões de lixo, salientando que “toda a responsabilidade cabe aos militares norte-coreanos”.
“Podemos aumentar o número de altifalantes nas zonas da linha da frente se o Norte continuar as provocações”, disse, no sábado, um responsável militar sul-coreano à agência de notícias Yonhap.
Mais de uma centena de voos e cerca de 10.000 passageiros foram já afetados pelos balões enviados pela Coreia do Norte, assinalou na quarta-feira um deputado sul-coreano.
Na sequência desta “guerra de balões”, Seul suspendeu completamente um acordo militar destinado a reduzir as tensões entre os dois países e avisou, em junho, que ia retomar a difusão de propaganda por altifalante ao longo da fronteira.
A Coreia do Norte, um país recluso, procura negar à população o acesso à cultura popular sul-coreana, como a música K-pop ou séries de K-drama. Em 2022, um cidadão norte-coreano foi executado por Pyongyang por possuir conteúdos culturais do Sul.
Este tipo de propaganda, tática que remonta à Guerra da Coreia (1950-1953), enfurece Pyongyang, que já ameaçou atingir os altifalantes sul-coreanos com artilharia. Seul também retomou recentemente os exercícios de fogo real perto da fronteira com o Norte.
Nos últimos anos, ativistas sul-coreanos, incluindo desertores do Norte, enviaram para o Norte milhares de balões e garrafas de plástico com bens alimentares, dinheiro e propaganda.
Em 2022, um grupo de ativistas afirmou ter lançado um milhão de folhetos de propaganda através de balões, apesar de uma lei que criminaliza tais actos.
A Coreia do Sul aprovou a lei em 2020, tornando crime, punível com até três anos de prisão, o envio de panfletos promocionais e objetos de valor para o Norte sem a autorização do governo. Mas em 2023, o Tribunal Constitucional anulou a lei.
Segundo o Estado-Maior sul-coreano, em 2016, balões enviados pelo Norte causaram danos num veículo e no telhado de uma casa. Na altura, os balões terão transportado papel higiénico, pontas de cigarro e lixo, que a polícia de Seul classificou como “substâncias bioquímicas perigosas”.
Os dois países, que assinaram em 1953 um armistício mas nunca assinaram oficialmente um tratado de paz para pôr fim à Guerra da Coreia, estão separados por uma zona desmilitarizada fortificada, e continuam tecnicamente em guerra.