As populações do norte da Europa foram dizimadas pela peste (e nunca recuperaram)

Há cerca de 5.400 anos, a cultura neolítica na Europa, conhecida pela criação de estruturas monumentais como Stonehenge, registou um declínio dramático. Uma nova investigação sugere que a peste negra poderá ter sido a principal causa.

Os investigadores analisaram o ADN de 108 indivíduos que viveram no norte da Europa durante este período. Os cientistas descobriram que 18 destes indivíduos eram portadores da bactéria da peste, Yersinia pestis, na altura da sua morte.

O declínio da população neolítica na Europa há muito que intriga historiadores e cientistas. Na última década, estudos revelaram que a população não recuperou totalmente deste declínio.

Em vez disso, os habitantes originais foram em grande parte substituídos por pessoas que migraram das estepes euro-asiáticas. Por exemplo, há cerca de 4 mil anos, na Grã-Bretanha, menos de 10% da população descendia daqueles que construíram Stonehenge.

Investigações anteriores tinham sugerido que a peste negra poderia ter sido responsável pelo declínio da população.

No entanto, alguns cientistas mostraram-se céticos, argumentando que as primeiras formas de Y. pestis não eram suscetíveis de causar uma pandemia devido à sua incapacidade de sobreviver nas pulgas – o principal vetor da peste bubónica.

De acordo com a New Scientist, os investigadores queriam então encontrar provas mais concretas de uma pandemia de peste negra.

Para tal, sequenciaram o ADN de indivíduos enterrados em nove túmulos na Suécia e na Dinamarca de indivíduos que viveram entre 5.200 e 4.900 anos atrás, pertenciam a várias gerações de quatro famílias.

Os investigadores identificaram três surtos de peste distintos ao longo destas gerações, sendo que o último surto envolveu uma estirpe mais perigosa da bactéria.

A presença de ADN da peste, especialmente nos dentes, indica que a bactéria entrou na corrente sanguínea e causou uma doença grave, levando provavelmente à morte. A presença consistente da mesma estirpe de peste em vários indivíduos sugere uma rápida propagação, potencialmente através do contacto pessoa a pessoa.

Pensamos que a peste os matou“, afirma o geogeneticista Frederik Seersholm, investigador da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, e autor principal do estudo, que foram publicados esta quarta-feira na revista científica Nature.

Este modo de transmissão poderia indicar a peste pneumónica, em que a bactéria infeta os pulmões e se propaga. Além disso, estudos recentes sugerem que os piolhos também podem transmitir a peste bubónica, e não apenas as pulgas.

Estudos do ADN humano antigo conduzidos nos últimos dez anos revelaram que as populações locais não recuperaram totalmente do declínio do Neolítico — em vez disso, dizem os investigadores, foram largamente substituídas por outros povos, vindos das estepes eurasiáticas

Na Grã-Bretanha, há cerca de 4000 anos, por exemplo, menos de 10% da população provinha das pessoas que construíram Stonehenge.

Estes estudos de humanos antigos revelaram também vários casos em que a bactéria da peste estava presente — o que sugere que a peste pode ter exterminado a população da Europa, permitindo que os povos das estepes se instalassem sem grande oposição.

Embora os cientistas não afirmem que as suas descobertas sejam definitivas, reforçam a ideia de que a peste contribuiu significativamente para o declínio do Neolítico.

ZAP //

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