Uma testemunha ocular pode mudar o seu discurso durante uma investigação criminal. Depende do cronótipo.
A memória de testemunhas oculares pode ser decisiva num processo em tribunal. Muitas vezes é mesmo peça-chave.
Mas essa memória, e a precisão do discurso, podem ser muito condicionados pela hora em que começa a sessão em tribunal.
Um estudo português, da Universidade Portucalense Infante D. Henrique (UPT) com colaboração do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), chegou a essa conclusão.
O horário dos interrogatórios pode influenciar significativamente a precisão das testemunhas oculares em investigações criminais.
A análise centrou-se no cronótipo, a tendência natural do organismo para estar mais alerta e produtivo em determinados momentos do dia. E o cronótipo afeta significativamente a memória de testemunhas oculares.
“A literatura tem-se debruçado na potencialidade do efeito de sincronia entre o cronótipo e a hora para a realização de tarefas em determinados domínios cognitivos (atenção, funções executivas, memória)”, explica Pedro F. S. Rodrigues, orientador desta investigação.
“Deste modo, a sincronização de determinadas atividades com o relógio circadiano poderá, potencialmente, resultar num melhor desempenho e produtividade”, continua, em comunicado enviado ao ZAP.
Pedro acrescenta que, no domínio da memória de testemunhas oculares, é crucial que haja uma otimização do desempenho da memória e, portanto, torna-se indispensável avaliar os diversos fatores que possam dificultar a recordação do evento testemunhado – e colocar em causa o valor probatório do testemunho.
Método
Neste estudo, os participantes foram classificados em matutinos e vespertinos.
Realizaram tarefas de memória em sessões realizadas de manhã e ao final do dia: assistiram a vídeos de cenas de crime e neutras, relataram o que visualizaram (relato livre) e preencheram questionários sobre stress, ansiedade e depressão, de forma a avaliar variáveis que possam influenciar a memória.
A sincronia entre o cronótipo do participante e o horário do interrogatório resultou num melhor desempenho da memória: matutinos tiveram melhores resultados pela manhã, enquanto vespertinos se destacaram ao final do dia.
O estudo foi mais além de outras análises, ao perceber se este efeito é verificado em interrogatórios que recorrem a relato livre, ou seja, quando se solicita às testemunhas que relatem tudo o que conseguem, pela ordem que entenderem e com o maior número de detalhes possível.
A equipa de investigadores acredita que estes resultados podem ajudar a melhorar práticas de interrogatório e recolha de testemunhos; é importante considerar o cronótipo e o horário do dia para otimizar o desempenho da memória das testemunhas.
No caso do Salgado são todos.