Mudanças à vista no Irão? Reformista Pezeshkian vence presidenciais

EPA/STR

Masoud Pezeshkian (esq), com a filha, durante a campanha para as presidenciais no Irão

O candidato reformista Massoud Pezeshkian venceu a segunda volta das eleições presidenciais no Irão, à frente do ultraconservador Said Jalili. O novo presidente defende “relações construtivas” com Washington e com os países europeus para “tirar o Irão do isolamento”.

O deputado iraniano Massoud Pezeshkian, de 71 anos, recebeu mais de 16 milhões de votos contra mais de 13 milhões de Said Jalili, antigo negociador do programa nuclear iraniano, num total de 30 milhões de boletins de voto contados.

A taxa de participação foi de 49,8%, anunciou o Ministério do Interior iraniano.

Mesmo antes de os resultados finais terem sido anunciados, os apoiantes de Pezeshkian, antigo cirurgião cardíaco, saíram para as ruas de Teerão e de várias outras cidades para celebrar, reporta a BBC.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram sobretudo jovens a dançar e a agitar a bandeira verde caraterística da sua campanha, enquanto os carros que passavam tocavam as buzinas.

Pezeshkian, que ficou em primeiro lugar na primeira volta com 42,4% dos votos, defende um Irão mais aberto ao Ocidente. Jalili, de 58 anos, obteve 38,6% dos votos e é conhecido pela posição inflexível em relação às potências ocidentais.

Pouco conhecido no Irão no início da campanha, Pezeshkian ganhou popularidade com uma mensagem de moderação, aproximação ao Ocidente e críticas ao véu, sucedendo agora ao ultraconservador Ebrahim Raisi, que morreu num acidente de helicóptero em maio.

Conseguiu reunir o voto do descontentamento com as políticas de Raisi, sob cujo governo aumentou a repressão social e política, enquanto na campanha alimentou o medo de Jalili, um ultraconservador com reputação “de intransigência”.

A oposição no Irão e na diáspora apelou ao boicote da votação, considerando que os conservadores e reformistas são duas faces da mesma moeda.

As eleições foram acompanhadas de perto no estrangeiro, uma vez que o Irão está no centro de várias crises geopolíticas, desde a guerra em Gaza até à questão nuclear, em que está em desacordo com os países ocidentais, em particular os Estados Unidos, inimigo declarado.

Organizadas após a morte do presidente Raissi num acidente de helicóptero, a 19 de maio, as eleições decorreram num contexto de descontentamento popular, nomeadamente em relação à situação da economia, atingida pelas sanções internacionais.

Mão de amizade a todos

No seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados, Pezeshkian, ofereceu uma “mão de amizade a todos“, numa mensagem de reconciliação, depois de vencer a segunda volta das eleições presidenciais do país.

“Vamos apertar a mão da amizade a todos. Todos pertencem a este país. Temos de usar toda a gente para o progresso do país. São nossos irmãos“, declarou o político reformista à televisão estatal.

Não tinha partido nem apoio. Estas pessoas vieram com amor e ajudaram, e eu agradeço”, acrescentou, referindo-se aos apoiantes.

O deputado não fez qualquer referência à política internacional nestas primeiras declarações, depois de ter prometido uma aproximação ao Ocidente e de ter tentado reavivar o pacto nuclear de 2015 durante a campanha eleitoral.

Depois de uma primeira volta marcada por uma elevada taxa de abstenção, o nível mais baixo dos últimos 45 anos da República Islâmica, cerca de 61 milhões de iranianos foram chamados às urnas na sexta-feira, nas 58.638 assembleias de voto do país.

Segundo a BBC, muitos iranianos que não votaram na primeira volta decidiram agora comparecer às urnas para evitar que Jalili se tornasse presidente, com receio de que o Irão se encaminhasse para uma maior confrontação com o mundo exterior e que o candidato conservador trouxesse ao Irão mais sanções e mais isolamento.

Em dois debates televisivos, os candidatos discutiram as dificuldades económicas do país, as relações internacionais, a fraca participação nas eleições e as restrições impostas pelo governo à Internet.

O candidato reformista, que afirmou ser fiel à República Islâmica, defendeu “relações construtivas” com Washington e com os países europeus para “tirar o Irão do isolamento”.

Negociador do programa nuclear entre 2007 e 2013, Jalili opôs-se fortemente ao acordo alcançado em 2015 entre Teerão e as potências mundiais, incluindo os Estados Unidos, que impôs restrições à atividade nuclear do Irão em troca de um alívio das sanções.

As negociações nucleares estão atualmente num impasse depois de os EUA se terem retirado unilateralmente em 2018, reimpondo duras sanções económicas a Teerão.

O Presidente do Irão tem poderes limitados: é responsável por implementar, à frente do governo, as grandes orientações políticas definidas pelo líder supremo, o ‘ayatollah’ Ali Khamenei, que é o chefe de Estado.

Pezeshkian tornar-se-á no nono presidente da história da República Islâmica do Irão, o terceiro reformista no cargo, um grupo político que procura uma certa abertura do país, e o primeiro moderado a presidir desde 2021, quando Raisi venceu.

ZAP // Lusa

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