As formigas carpinteiras da Flórida são a primeira espécie conhecida, além dos humanos, que recorre às amputações e cirurgias para tratar as feridas.
Numa descoberta inovadora, os investigadores descobriram que as formigas carpinteiras da Florida (Camponotus floridanus) realizam cirurgias que salvam vidas aos seus pares, o que faz delas apenas a segunda espécie conhecida, a par dos humanos, a adotar tal comportamento. Este estudo foi publicado a 2 de julho na revista Current Biology.
A equipa, liderada por Erik Frank, um ecologista comportamental da Universidade de Würzburg, na Alemanha, observou que estas formigas conseguem identificar feridas nos membros dos seus companheiros de ninho e tratá-las através de limpeza ou amputação. Este é o primeiro caso documentado de amputação sistemática e sofisticada no reino animal.
Anteriormente, a equipa de Frank descobriu que uma espécie de formiga africana, Megaponera analis, trata feridas infetadas utilizando uma substância antimicrobiana produzida nas suas glândulas. No entanto, as formigas carpinteiras da Flórida não têm essas glândulas, o que levou os investigadores a investigar como é que elas tratam as feridas nas suas colónias. O estudo centrou-se em dois tipos de ferimentos nas pernas: lacerações no fémur (coxa) e na tíbia (perna).
Durante as experiências, os investigadores notaram que as formigas tratavam os ferimentos do fémur limpando a ferida com a boca e depois amputando a perna através de mordidelas repetidas. Em contrapartida, as feridas da tíbia foram tratadas apenas com limpeza, relata o Live Science.
Estas intervenções aumentaram significativamente as taxas de sobrevivência das formigas feridas. Para os ferimentos no fémur, a sobrevivência melhorou de menos de 40% para entre 90% e 95% após a amputação. As lesões na tíbia viram as taxas de sobrevivência saltar de 15% para 75% após a limpeza.
O estudo sugere que as formigas apenas amputam os ferimentos do fémur devido ao tempo necessário para o procedimento, que demora pelo menos 40 minutos. As microtomografias indicaram que as lesões no fémur danificam os músculos que bombeiam o sangue, abrandando a circulação sanguínea e dando mais tempo para que o sangue carregado de bactérias entre no corpo.
Esta propagação mais lenta da infeção dá às formigas a janela necessária para efetuar amputações. Em contrapartida, a tíbia tem menos tecido muscular, o que leva a uma propagação mais rápida da infeção, tornando a amputação menos eficaz. Assim, as formigas dão prioridade à limpeza destas lesões.
Frank destacou as capacidades avançadas de diagnóstico das formigas, observando: “As formigas são capazes de diagnosticar uma ferida, ver se está infetada ou estéril, e tratá-la em conformidade durante longos períodos de tempo por outros indivíduos – o único sistema médico que pode rivalizar com isso seria o humano”. Os investigadores concluíram que esta capacidade de tratamento de feridas é inata, não havendo indícios de aprendizagem.
A equipa está agora a alargar a sua investigação a outras espécies de formigas que não possuem glândulas antimicrobianas para determinar se existem comportamentos cirúrgicos semelhantes noutros locais do mundo das formigas.