Decifrado o “paradoxo do Mediterrâneo”: como o mar esteve cheio e vazio ao mesmo tempo

Flappiefh/Wikimedia Commons

Mapa da Bacia do Mediterrâneo e do Próximo-Oriente, antes de 1000 d.C.

Investigadores espanhóis terão resolvido mistério geológico com nova simulação.

Cientistas do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) de Espanha desvendaram um dos maiores mistérios da geologia mediterrânica: o chamado paradoxo do Mediterrâneo, um fenómeno que intrigava a comunidade científica há décadas por sugerir que a bacia mediterrânica esteve seca e com água ao mesmo tempo, durante o Messiniano, há cerca de 5,5 milhões de anos.

A chave para resolver o enigma foi um novo modelo numérico desenvolvido pelo centro Geociências Barcelona, que permitiu simular 600 mil anos de alterações geológicas na região. A ferramenta teve em conta variáveis como a precipitação, evaporação, erosão fluvial e os movimentos verticais da crosta terrestre, aponta o El Confidencial.

O estudo, publicado no passado dia 11 de julho na Science Advances, revela que, após o isolamento do Mediterrâneo do oceano Atlântico, o nível da água da bacia desceu até dois quilómetros. Esta descida drástica foi causada por intensa evaporação, que deixou extensos depósitos de sal. Mas a presença de fósseis de organismos de água doce ou salobra, tanto em zonas costeiras como nas profundezas marinhas, colocava em causa a teoria de uma desidratação total.

As novas simulações mostram que, apesar da queda acentuada do nível do mar, a entrada de água doce de rios eurasiáticos e dos antigos lagos do Paratethys (mar interior raso que se estendia da região ao norte dos Alpes, na Europa Central, até o mar de Aral, na Ásia Central) formou sistemas de lagos pouco profundos e dispersos.

Este cenário explica a coexistência de vestígios fósseis aparentemente contraditórios. A fase final desta crise, conhecida como Lago-Mare, ficou marcada por flutuações no nível da água devido a alterações climáticas provocadas pelas oscilações na inclinação da Terra em relação ao Sol.

O investigador principal, Daniel García-Castellanos, explicou que estas oscilações periódicas provocaram a formação de corpos de água de baixa salinidade e de curta duração, criando habitats instáveis e com biodiversidade limitada.

A crise terminou abruptamente com o regresso das águas atlânticas ao Mediterrâneo.

ZAP //

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