Quase 7.000 barragens deslocaram o Polo Norte da Terra

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Barragem de Victoria, Sri Lanka

Ao longo dos últimos dois séculos, os humanos acumularam água suficiente em barragens para deslocar ligeiramente os polos da Terra para longe do eixo de rotação do planeta.

A camada sólida mais externa da Terra assenta sobre rocha fundida viscosa, pelo que pode mover-se relativamente ao magma abaixo.

Sempre que a massa é redistribuída à volta da superfície do planeta, como quando as camadas de gelo crescem ou encolhem, esta camada rochosa mais externa oscila e move-se.

Um novo estudo, recentemente publicado na Geophysical Research Letters, descobriu que a construção de quase 7.000 barragens entre 1835 e 2011 deslocou os polos cerca de um metro no total, e causou uma diminuição de cerca de  21 mm no nível global do mar — 1/4 da subida esperada no século XX.

Juntas, estas barragens contêm cerca de 8,3 biliões de litros de água — uma quantidade equivalente à que o rio Amazonas despeja no oceano durante um ano, e suficiente para abastecer toda a população mundial durante 1.400 anos.

Imagine que atiramos um pedaço de barro para um lado de uma bola de futebol em rotação: para manter o momento, a parte da bola com o barro irá deslocar-se ligeiramente em direção ao seu equador e afastar-se do seu eixo de rotação, explicam os autores do estudo num comunicado publicado na AGU.

Quando isto acontece na Terra e a camada rochosa mais externa oscila, diferentes áreas da superfície acabam por ficar diretamente sobre o eixo de rotação. Os polos geográficos passam então por pontos diferentes na superfície — um processo chamado deriva polar verdadeira.

Os resultados do estudo mostram uma vez mais como as atividades humanas conseguem afetar o nosso planeta. O deslocamento polar é pequeno, mas pode ajudar os cientistas a compreender como os polos se moverão se os principais glaciares e camadas de gelo derreterem devido às alterações climáticas.

“Ao retermos água atrás de barragens, não só removemos água dos oceanos, levando assim a uma queda global do nível do mar, como também distribuímos massa de forma diferente pelo mundo”, diz Natasha Valencic, investigadora da Universidade de Harvard e autora principal do estudo.

O estudo mostra que a mudança aconteceu em duas fases: de 1835 a 1954, barragens na América do Norte e Europa empurraram o polo em direção à Rússia e China. Entre 1954 e 2011, Barragens na Ásia e África Oriental redirecionaram-no de volta para a América do Norte e o Pacífico Sul.

Embora o movimento do polo não vá propriamente desencadear uma era glacial, estas alterações influenciam a geometria do nível do mar.

Não vamos entrar numa nova era glacial“, diz Valencic. “Mas a forma como a água se move — ou não — pode remodelar o nosso planeta de formas que estamos apenas a começar a compreender”.

ZAP //

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