Cientistas descobrem a origem surpreendente do carcinoma fibrolamelar

Rockefeller University

Imagem de microscopia de transcriptómica espacial de células tumorais FLC (vermelho) e células estreladas (verde).

O carcinoma fibrolamelar é um cancro raro e atualmente incurável, que ataca o fígado de crianças, adolescentes e jovens adultos. Uma equipa de cientistas encontrou agora o verdadeiro culpado da sua ocorrência.

O carcinoma fibromelar (FLC) é causado quando uma deleção no cromossoma 19 provoca a fusão de dois genes.

Um dos genes é o DNAJB1, que produz proteínas de choque térmico que estimulam a homeostase celular, e o outro é o PRKACA, gerador da subunidade catalítica da proteína quinase A (PKA), fundamental para a função metabólica celular.

Num novo estudo, publicado a semana passada no Cancer Research, os investigadores descobriram que uma proteína de fusão comporta-se da mesma forma que uma quinase normal. No entanto, as células que contêm uma adição à sua subunidade catalítica geram a quinase em quantidades excessivas.

Segundo o Futurity, os cientistas analisaram amostras de tecido tumoral de doentes com FLC utilizando técnicas bioquímicas, espetrometria de massa e imunofluorescência para quantificar o nível de proteína no tecido tumoral dos doentes.

Seguidamente, descobriram que as células tumorais têm um desequilíbrio molecular. Uma quantidade maior de proteínas catalíticas excede o número de proteínas inibitórias que normalmente as reprimem e localizam.

Este excesso tem dois efeitos profundos nas células: o aumento da atividade de PKA sem controlo, e a sua livre circulação pela células, que causa estragos em locais que normalmente não consegue aceder, incluindo o núcleo.

Os resultados do estudo conduziram a uma descoberta surpreendente: a proteína de fusão comporta-se exatamente como uma quinase normal, mas as células que contêm uma adição à sua subunidade catalítica geram quinase em quantidades excessivas — e este é o verdadeiro culpado.

Estas descobertas poderão conduzir aos primeiros tratamentos terapêuticos para o cancro do fígado e a novas técnicas de remoção cirúrgica de tumores. Uma ideia é localizar os locais na proteína DNAJB1 aos quais um inibidor de fármacos se possa ligar e a outra é reduzir a expressão da PKA.

Além disso, a medição dos níveis de proteínas produzidas por genes mutantes pode ser o primeiro passo para compreender melhor qualquer tipo de cancro.

“Muitas doenças raras são caracterizadas de forma muito precisa, o que torna possível fazer progressos rápidos, e esses resultados podem muitas vezes ser generalizados para as doenças comuns. Por exemplo, aprendemos o conceito de ‘supressor tumoral‘ ao estudar o raro cancro infantil retinoblastoma”, conclui o autor principal do estudo, Sanford Simon.

“À medida que definimos as doenças com maior precisão, descobrimos que muitas delas, que se pensava serem únicas são, na realidade, coleções de diferentes doenças raras que partilham alguma caraterística ou mecanismo comum”, conclui o investigador.

Soraia Ferreira, ZAP //

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