Obstetras pedem à DGS que divulgue publicamente os resultados do relatório que analisou as causas da mortalidade materna registada em 2020, onde chegou a níveis dos anos 80.
Há dois anos, foi lançada uma investigação para analisar a mortalidade materna em Portugal, que atingiu níveis preocupantes em 2020. Naquele ano, 17 mulheres morreram devido a complicações relacionadas com a gravidez, parto e puerpério, marcando a taxa de mortalidade materna mais elevada dos últimos 38 anos.
A Comissão de Acompanhamento da Mortalidade Materna completou um relatório sobre esses óbitos, que foi enviado à Direção-Geral da Saúde (DGS) e ao Ministério da Saúde.
Diogo Ayres de Campos, obstetra membro da comissão, adianta ao JN que o relatório foi atualizado há cerca de um mês devido à prioridade atribuída ao assunto por Rita Sá Machado, diretora-geral da Saúde. No entanto, a DGS informou que o relatório ainda está em desenvolvimento e só prestará esclarecimentos após a sua publicação.
Marina Moucho, ginecologista e obstetra, acredita que a publicação do relatório é importante “para se avaliar os cuidados de saúde maternos”. Tanto Moucho como Ayres de Campos apontaram problemas no registo dos óbitos no Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), que podem ter levado a uma sobre notificação dos casos de mortalidade materna.
Ayres de Campos aponta que menos de 40% das mortes reportadas como maternas em 2020 estavam diretamente relacionadas com a gravidez.
Além do registo dos óbitos, a comissão sublinhou a necessidade de estudar o impacto de fatores como o local do parto, comorbilidades, idade da grávida e acesso a cuidados de saúde. Ambos os obstetras defendem a publicação do relatório e a análise contínua da morbilidade materna grave como parte da rotina.
A definição de óbito materno seguida pela DGS, conforme as recomendações da Organização Mundial de Saúde, inclui a morte de uma mulher durante a gravidez ou até 42 dias após o término da gravidez. Em 2020, registaram-se 17 óbitos maternos, com 13 ocorridos em instituições de saúde, e em 2021, esse número baixou para 7.
No Parlamento, Graças Freitas revelou que mais de 76% das grávidas falecidas em 2020 tinham patologias graves e metade tinha mais de 35 anos. A idade média das mães ao nascimento do primeiro filho era de 30,9 anos em 2023, uma das mais altas da União Europeia.