Número de docentes que concorreram para sair aumentou 37%. Há 23 escolas com 50 ou mais pedidos de saída.
O último concurso interno de professores registou quase 34 mil pedidos de mudança por parte dos docentes.
Dois anos depois, o número aumenta 37% e, para o próximo ano letivo, mais de 46 mil (46.088) professores concorreram para sair.
O Diário de Notícias sublinha ainda que há escolas que têm quase 100 pedidos de professores que querem deixar o estabelecimento escolar onde estiveram neste ano.
Os dois que se destacam são a Norte: Agrupamento de Escolas Padre Benjamim Salgado, em Famalicão (92 professores) e Agrupamento de Escolas de Vilela, em Paredes (90 docentes).
Há 23 escolas com 50 ou mais pedidos de saída, sendo a maioria no Norte e no Centro.
Há vários motivos para estas tentativas de mudança. O principal é o excesso de trabalho, com relatos de esgotamento, de sintomas de burnout.
A professora Isabel Braga é um exemplo elucidativo: “Tinha turmas de 2.º e 3.º ciclos, quatro disciplinas, era diretora de turma e pertencia ao conselho geral” – e foi ainda coordenadora de exames durante oito anos.
Quem chegou já ao seu limite tem outra razão: falta de respeito por parte dos alunos e dos encarregados de educação. Multiplicam-se queixas, há palavrões em sala de aula (além de outros comportamentos) e os encarregados de educação nada fazem.
Outro motivo: menos poder de decisão dos professores. Outra docente, que não se identifica, avisa: “Há 10 ou 12 anos os departamentos tinham voz. A nossa participação na escola agora é mais executar o que outros determinam e é muito desmotivante. Somos uns meros executores e guardadores de crianças. É preciso um abanão no sistema educativo. As pessoas andam a arrastar-se nas escolas. As escolas devem voltar ao seu papel de ensinar”.
Patrícia Carreira traz outra origem na mudança: quer deixar o 1.º ciclo para ser professora no 2.º ciclo. As condições de trabalho não agradam: “Gostei muito até a escola se transformar num depósito de crianças. A atribuição de tarefas que nos dão e que não fazem parte da nossa função, como vigiar recreios e hora de almoço, ou saber se as crianças já foram ao dentista, são esgotantes. Há 15 ou 20 anos não era assim, agora é um depósito escolar”.
Cristina Mota, porta-voz do movimento Missão Escola Pública, está contra o modelo de gestão: “O ambiente nas escolas causado pela autocracia é angustiante”.