Caldeirões com 2.700 anos eram utilizados para a recolha de sangue

ZAP // Dall-E-2

Um caldeirão antigo, descoberto na Mongólia, deu uma nova visão aos cientistas sobre a forma como os antigos habitantes da terra se alimentavam.

Os arqueólogos rasparam os resíduos do interior de dois caldeirões da Idade do Bronze, que se desenvolveu entre 2000 a.C. e 700 a.C. na Ásia.

Este período foi caraterizado pela ocupação de terras férteis de vale e montanha, onde se instalaram povos, e pelo desenvolvimento da metalurgia do bronze.

Segundo o Science Alert, os investigadores descobriram que os recipientes eram utilizados para colher sangue de ruminantes, incluindo ovelhas e cabras, bem como o leite de iaques selvagens.

Num novo estudo, publicado esta quarta-feira na Scientific Reports, a equipa de cientistas concluiu que o sangue encontrado serviria para fins dietéticos, como a produção de enchidos de sangue, à semelhança das técnicas de fabrico de enchidos ainda hoje utilizadas na Mongólia rural.

“O nosso estudo sublinha as propriedades de conservação dos materiais de bronze, que servem de guardiões para a conservação de proteínas e outras moléculas orgânicas”, diz o arqueólogo e primeiro autor do estudo Shevan Wilkin, em comunicado.

Wilkin et al / Scientific Reports

Os cientistas recolheram amostras do interior de ambos os caldeirões para efetuar uma análise proteica e ainda utilizaram a datação por radiocarbono para determinar a sua idade.

Ao estudar estes objetos, os cientistas esperavam descobrir dados sobre a dieta das pessoas que os utilizavam. Outros caldeirões semelhantes tinham sido utilizados como recipientes para cozinhar.

A análise proteómica revelou a presença de proteínas do sangue, bem como de uma glicoproteína que está presente no fígado tendo estas sido classificadas como sendo originárias de ruminantes.

Os autores do estudo atribuem a presença de proteínas secundárias no caldeirão ao leite de iaques selvagens — embora ainda não se saiba como estes dois líquidos, o sangue e o leite, eram utilizados.

“Os nossos dados sugerem que estes dois caldeirões eram utilizados para recolher o sangue de animais ruminantes durante o abate, sendo provavelmente uma parte importante da produção alimentar“, afirmam os investigadores.

“Se o sangue fosse recolhido, como sugerimos, para a produção de enchidos, a antiguidade desta prática prolongar-se-ia pelo menos 2700 anos no passado”, concluem.

Estes recipientes de bronze podem representar um recurso inexplorado para compreender as civilizações antigas, uma vez que o metal tem propriedades antibacterianas que podem preservar materiais orgânicos durante milénios.

Soraia Ferreira, ZAP //

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