Um novo estudo revelou uma ligação surpreendente entre vírus antigos escondidos em ADN humano “inútil” e várias doenças psiquiátricas, incluindo a depressão, a esquizofrenia e a doença bipolar.
Estes vírus, conhecidos como Retrovírus Endógenos Humanos (REH), fazem parte do genoma humano há centenas de milhares de anos, sendo potencialmente originários dos Neandertais.
Anteriormente consideradas “ADN inútil”, estas sequências virais podem desempenhar um papel significativo na função cerebral e na saúde mental.
“Este estudo utiliza uma abordagem nova e robusta para avaliar o impacto da suscetibilidade genética para perturbações psiquiátricas na expressão de sequências virais antigas presentes no genoma humano moderno”, explica o coautor do estudo, Timothy Powell, citado pelo Daily Mail.
“Os nossos resultados sugerem que estas sequências virais desempenham provavelmente um papel mais importante no cérebro humano do que se pensava inicialmente”, acrescenta o investigador.
No seu estudo, os investigadores analisaram dados de estudos genéticos em grande escala que envolveram dezenas de milhares de pessoas, com e sem problemas de saúde mental.
Os autores do estudo examinaram também amostras cerebrais de autópsias de 800 pessoas para compreender como as variações genéticas associadas a perturbações psiquiátricas afetam a expressão dos REH, que constituem até 8% do genoma humano.
Os resultados revelaram que as variantes genéticas de risco específicas influenciam a expressão dos REH. Os cientistas identificaram cinco expressões específicas de REH associadas a perturbações psiquiátricas: duas associadas à esquizofrenia, uma associada à perturbação bipolar e à esquizofrenia e uma associada à depressão.
Curiosamente, não foram encontradas expressões REH associadas a perturbações de hiperatividade ou a doenças do espetro do autismo. Os resultados foram publicados em maio na revista científica Nature Communications.
“Sabemos que as perturbações psiquiátricas têm uma componente genética substancial, com muitas partes do genoma a contribuírem progressivamente para a suscetibilidade”, sublinha o geneticista brasileiro Rodrigo Duarte, autor principal do artigo.
“No nosso estudo, conseguimos investigar partes do genoma correspondentes aos REH, o que levou à identificação de cinco sequências que são relevantes para as perturbações psiquiátricas”, acrescenta o geneticista.
A investigação sugere que a regulação destas sequências virais antigas é crucial para o bom funcionamento do cérebro. Esta descoberta abre novas vias para a compreensão da base genética das perturbações psiquiátricas e poderá conduzir a novos tratamentos.