Realizador português conseguiu um feito inédito no conceituado festival em França. E nem ia à cerimónia – estava numa ilha.
Miguel Gomes conseguiu pela primeira vez um prémio no Festival de Cinema de Cannes.
No sábado passado, durante a cerimónia de encerramento, o realizador foi surpreendido ao receber o prémio de Melhor Realização, devido ao seu filme Grand Tour.
É a primeira vez que o prémio de Melhor Realização em Cannes vem para Portugal. “Foi incrível. Não estava nada à espera“, admite Miguel Gomes.
O realizador contou na RTP que nem ia à cerimónia: estava numa ilha perto de Cannes, no dia do evento.
Mas recebeu um telefonema da produtora: “Têm que estar na cerimónia” – e foi a correr para o barco, para chegar a tempo da cerimónia.
Foi aí que foi surpreendido. Venceu porque teve sorte, segundo o próprio.
Explicando: “É preciso ter sorte com os júris. Um filme é sempre experimentado de maneiras diferentes por quem o vê. O filme provavelmente tocou aquele grupo de pessoas e tive essa sorte“.
Grand Tour regressa a 1917 em Rangum, Birmânia. Edward, um funcionário público do Império Britânico, foge da noiva Molly no dia em que ela chega para o casamento. Mas Molly segue o rasto do noivo em fuga através deste Grand Tour asiático.
A filmagem da obra foi um “processo longo”, com três rodagens: uma em estúdio, a segunda em sete países Ásia e a terceira rodagem – inesperada – porque o último dos países era a China, em Fevereiro 2020; “era má ideia” entrar na China por causa do coronavírus e a equipa teve de adiar essa parte da rodagem.
Ao contrário de Alfred Hitchcock, Miguel Gomes precisa de “reagir a coisas”, não cria o filme sentado no escritório. “Fiz uma viagem pela Ásia, coleccionámos uma espécie de arquivo de viagens. Foi com essas imagens que comecei a reagir ao mundo para então escrever a ficção”, relatou.
Esta vitória não deverá trazer grandes mudanças na sua carreira e no cinema português. “Dizer que vai mudar é excessivo. Mas é importante para continuidade do meu trabalho e para vincar um aspecto que é pouco tido em conta: a importância do cinema português, o seu peso real, a relevância lá fora”.
Nesta edição de Cannes, outro realizador português, Daniel Soares, conseguiu uma menção especial com a sua curta-metragem Bad for a moment.