Um estudo que estudou a influência de um gene na obesidade de Labradores pode ajudar a compreender melhor a obesidade nos humanos.
Na Universidade de Cambridge, um Labrador retriever abana a cauda efusivamente e tentar arrombar uma caixa transparente com uma salsicha dentro. Pode parecer uma banalidade, mas faz parte de um importante estudo destinado a compreender a obesidade nos cães, o que poderá ter implicações também para humanos.
Eleanor Raffan, geneticista canina, estuda o papel do gene da pro-opiomelanocortina (POMC) na regulação do peso corporal. A sua investigação recente, publicada na revista Science Advances, mostra que os cães com uma mutação específica do gene POMC tendem a ter mais fome, têm uma taxa metabólica de repouso 25% inferior e, consequentemente, ganham mais peso.
Este gene produz vários péptidos no cérebro que regulam o equilíbrio energético. Um destes péptidos, o β-MSH, é difícil de estudar em humanos devido à sua raridade, o que faz dos cães um excelente modelo.
Os Labradores, em particular, provaram ser um objeto valioso para esta investigação. Mais de 10% dos Labradores de pelo liso têm uma mutação no gene POMC que afeta a produção de β-MSH. Isto torna-os naturalmente propensos à obesidade, proporcionando uma oportunidade única para estudar esta doença.
Em 2016, a descoberta da mutação da POMC associada ao peso corporal nos Labradores levou a mais investigação sobre a forma como esta mutação afeta a ingestão e o gasto de energia.
De acordo com o The Scientist, a equipa de Raffan alimentou os cães com uma lata de comida de 20 em 20 minutos até os cães recusarem mais. Surpreendentemente, todos os cães comeram grandes quantidades, independentemente da sua mutação. No entanto, no teste da salsicha numa caixa, os cães com a mutação eram mais persistentes e mais ávidos de comida do que os que não a tinham.
Para estudar o gasto energético, Raffan mediu as taxas metabólicas de repouso dos cães. Os cães com a mutação POMC queimaram menos calorias em repouso, o que, combinado com o aumento da fome, contribuiu para a sua obesidade.
A compreensão destes mecanismos é crucial para o desenvolvimento de tratamentos para a obesidade. Carmelo Quarta, da Universidade de Bordéus, que não participou no estudo, salientou o potencial desta investigação para o desenvolvimento de novos medicamentos.