Com bonés monitorizadores de sinais cerebrais, uma equipa notou que três regiões do cérebro garantem que estamos virados para a direção certa e que mantemos a consciência da nossa posição num determinado ambiente.
Investigadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha, acreditam ter descoberto a “bússola neural” do cérebro — um mecanismo que ajuda os seres humanos a navegar no seu ambiente sem se perderem.
O estudo, publicado na Nature Human Behaviour no dia 6 de maio, explora a forma como o nosso cérebro calcula a orientação e o movimento no espaço, uma área que tem sido menos explorada em comparação com o mapeamento cognitivo do que nos rodeia.
“Sabemos que animais como pássaros, ratos e morcegos têm circuitos neurais que os mantêm no caminho certo, mas sabemos surpreendentemente pouco sobre a forma como o cérebro humano gere isto no mundo real”, diz o neurocientista Benjamin Griffiths, da Universidade de Birmingham, citado pelo Science Alert.
O neurocientista Benjamin Griffiths e a sua equipa realizaram experiências que envolveram 52 voluntários saudáveis, a quem foi pedido que orientassem a cabeça e os olhos em várias direções enquanto usavam bonés EEG, que monitorizavam os sinais cerebrais e dispositivos de rastreio de movimentos que registavam os seus movimentos.
A equipa registou informações adicionais de um grupo mais pequeno, de 10 voluntários, que tinham elétrodos implantados no crânio por razões médicas.
A investigação destacou o lobo temporal medial, o córtex parietal e o parahipocampo — regiões conhecidas pelos seus papéis na memória, no processamento da informação recebida e no reconhecimento de lugares, respetivamente — como áreas-chave envolvidas na nossa capacidade de nos orientarmos.
A equipa descobriu ainda que os sinais cerebrais específicos nestas áreas estão sintonizados com as alterações do ângulo da cabeça e são distintos dos sinais relacionados com a entrada sensorial ou com os movimentos musculares.
Ou seja, estas regiões cerebrais enviam sinais imediatamente antes de movermos a cabeça, desempenhando um papel fundamental para garantir que estamos virados para a direção certa e que mantemos a consciência da nossa posição num ambiente. Este processo ajuda a evitar a desorientação e é fundamental para as tarefas quotidianas, como passar através de uma porta ou conduzir.
Compreender como o cérebro processa a informação de navegação pode ter implicações significativas. Poderá contribuir para a investigação de doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, ao esclarecer a razão pela qual estas capacidades de navegação se deterioram.
“A nossa abordagem abriu novas vias para explorar estas características, com implicações para a investigação de doenças neurodegenerativas e até para melhorar as tecnologias de navegação na robótica e na IA”, acrescenta Griffiths.