Um satélite operado pela empresa japonesa Astroscale foi atrás de uma sucata espacial de 15 anos — e tirou uma foto dela de perto.
Trata-se de um segmento de foguete descartado — ele mede cerca de 11 metros x 4 metros, e tem uma massa de três toneladas.
É a primeira vez que se consegue chegar perto de um pedaço tão grande de lixo espacial.
A Astroscale está a desenvolver uma tecnologia para limpar o Espaço, removendo detritos da órbita da Terra.
Ela não vai fazer isso nesta ocasião: a missão atual consiste em testar os sensores e software necessários para operações de aproximação seguras. Mas uma tentativa dedicada a remover lixo espacial deve ocorrer nos próximos anos, afirma a empresa.
A questão dos detritos cósmicos e do uso sustentável do Espaço está a tornar-se um tema cada vez mais relevante.
Milhões de itens de detritos tecnológicos acumularam-se desde o início da era espacial em 1957 — de lascas de tinta até segmentos de foguetes abandonados, como o que acabou de ser fotografado pela Astroscale.
Estes pedaços de metal e outros materiais errantes correm o risco de colidir e destruir os satélites em operação que usamos para comunicar e monitorizar o planeta. As estruturas dos foguetes são um perigo particular devido ao imenso volume.
O segmento registado na nova imagem é proveniente do veículo de lançamento japonês H-IIA, que lançou uma nave espacial de medição de CO2 chamada Gosat, em 2009. O segmento superior do foguete alçou a Gosat a uma altitude de aproximadamente 600 km.
Mas enquanto os foguetes mais modernos garantem que todos os seus segmentos voltem à Terra logo após o voo, este estágio do H-IIA permaneceu lá em cima. E está longe de estar sozinho.
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) calculou que 2220 corpos de foguetes ainda estão em órbita hoje. A atual missão da Astroscale chama-se Adras-J (acrónimo em inglês para Remoção Ativa de Detritos da Astroscale-Japão). Ela está a ser conduzida por uma nave espacial lançada em 18 de fevereiro — e o satélite tem-se aproximado da estrutura do foguete H-IIA desde então.
A Adras-J usou câmaras e algoritmos para fazer a aproximação final. É preciso muito cuidado para não esbarrar no segmento do foguete, que está a girar lentamente de ponta a ponta.
A equipa da Astroscale no Reino Unido construiu o “segmento terrestre” para a missão, que é o sistema usado para comunicar com a Adras-J. Eles também foram responsáveis por grande parte da “dinâmica de voo”, que consiste basicamente na navegação precisa.
As operações foram partilhadas 24 horas por dia pelo Controlo da Missão em Tóquio — e pela base britânica da empresa em Harwell, no condado de Oxfordshire, na Inglaterra.
O plano é passar as próximas semanas a capturar mais imagens e coletando informações sobre o segmento do foguete, como a condição da estrutura, sua taxa de rotação e seu eixo de rotação. A Adras-J vai tentar voar ao redor do corpo do foguete neste processo.
As futuras missões da Astroscale vão dar um passo além — e agarrar o seu alvo com a ajuda de braços robóticos. Nesta ocasião, a Adras-J vai limitar-se a fazer uma experiência a qual vai tentar diminuir a velocidade de rotação do segmento do foguete.
A atividade vai envolver o disparo de propulsores contra a estrutura na direção oposta ao seu movimento de rotação. A pressão da pluma (chama gerada pela queima de combustível) dos propulsores deve desacelerar a taxa de rotação.
Várias empresas no mundo todo estão a desenvolver tecnologias semelhantes à da Astroscale.
Especialistas dizem que, para evitar uma cascata de colisões em órbita, é imprescindível que os países que viajam pelo Espaço comecem a remover parte desta sucata todos os anos.
ZAP // BBC