// CNN Business
Um juiz federal condenou esta quinta-feira Sam Bankman-Fried a 25 anos de prisão pelo seu papel proeminente num dos maiores escândalos financeiros da história dos Estados Unidos, assinalando a queda surpreendente do antigo “Rei das Criptomoedas.
O juiz Lewis Kaplan, do Distrito Sul de Nova Iorque, emitiu a sentença quase cinco meses depois de Bankman-Fried, de 32 anos, ter sido considerado culpado por um júri de orquestrar uma fraude massiva centrada no seu império de criptomoedas.
Bankman-Fried, que se arriscava a uma pena máxima de 110 anos de prisão. foi também condenado a restituir 11 mil milhões de dólares às vítimas da sua fraude massiva.
Os procuradores tinham pedido uma pena de 40 a 50 anos, e os seus advogados defendiam uma pena de prisão de cinco a sete anos.
Há apenas há dois anos, Bankman-Fried era uma figura dominante no mundo das criptomoedas e emergia como um influente financiador de campanhas políticas, angariando milhões de investidores de Silicon Valley.
Bankman-Fried, que ambicionava ser um dia proprietário da Goldman Sachs, esforçou-se por influenciar os debates legislativos sobre criptomoedas, tendo feito generosas doações para campanhas políticas, tanto nas eleições de 2020 como nas de 2022.
“O objetivo era poder e influência“, afirmou o juiz durante a audiência de sentença, referindo-se à postura de Bankman-Fried como o “bom rapaz” das criptomoedas.
A pena de prisão aplicada “serve de aviso no âmbito da contínua repressão dos procuradores ao mercado de criptomoedas”, diz o Politico.
“Qualquer pessoa que pense que pode ocultar os seus crimes financeiros por trás da riqueza e do poder, ou por detrás de algo novo e brilhante que alega ser demasiado complexo para os outros compreenderem, deve pensar duas vezes”, afirmou o Procurador-Geral Merrick Garland numa declaração após a sentença.
Após o colapso da bolsa de criptomoedas FTX de Bankman-Fried, as autoridades federais intensificaram a sua ação sobre a indústria, com acusações contra vários outros executivos e empresas proeminentes por alegada fraude e facilitação de lavagem de dinheiro, incluindo para fins de terrorismo e tráfico de drogas.
Bankman-Fried foi considerado culpado de sete acusações de fraude e conspiração relacionadas com as operações da agora extinta FTX.
A acusação alegou, entre outras coisas, que desviou milhares de milhões de dólares dos fundos dos clientes para financiar o seu estilo de vida, numa ampla campanha de influência política e apostas arriscadas feitas pela Alameda Research, a empresa de negociação de criptomoedas que fundou antes da FTX.
Na audiência de sentença, Bankman-Fried pediu desculpa pelo colapso da FTX e admitiu que “tomou uma série de decisões erradas” enquanto geria a empresa.
“Lamento o que aconteceu em todas as fases, coisas que deveria ter feito e dito, coisas que não deveria ter feito”, disse. “Fracassei perante todos aqueles que me são queridos e tudo o que me é caro.”
No entanto, o juiz federal salientou que, apesar de Bankman-Fried reconhecer os erros, “ainda não expressou um pingo de remorso pelos crimes terríveis cometidos”.
“Sabia que estava errado“, afirmou Kaplan. “Sabia que era criminoso, lamenta ter feito uma aposta muito má sobre a probabilidade de ser apanhado, mas não vai admitir nada, o que está no seu direito.”
A pena de 25 anos, que colocará Bankman-Fried com quase 60 anos quando for libertado, não surpreendeu antigos procuradores federais.
“É simplesmente uma fraude gigantesca“, diz ao Político o antigo procurador federal Daniel Silva, que é agora acionista de uma firma de advocacia. “Os montantes são tão significativos que se olha para uma pena superior a 20 anos.”
O Procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova Iorque, Damian Williams, considerou a fraude “sem precedentes“.
“As suas mentiras deliberadas e contínuas demonstraram um desprezo flagrante pelas expectativas dos clientes e desrespeito pela lei, tudo para que pudesse usar secretamente o dinheiro dos seus clientes para expandir o seu próprio poder e influência”, disse Williams numa declaração.
“A escala dos seus crimes não se mede apenas pelo montante de dinheiro roubado, mas também pelo dano extraordinário causado às vítimas, que, em alguns casos, viram as suas poupanças de uma vida desaparecerem de um dia para o outro.”
Para os críticos das criptomoedas, o caso Bankman-Fried é um prenúncio dos perigos que consideram estar à espreita num mercado quase de 3 biliões de dólares e um aviso para a necessidade de as empresas se alinharem com as regras das agências reguladoras.
“A sentença de hoje envia uma mensagem a toda a indústria, especialmente aos magnatas das criptomoedas, de que a lei também se aplica a eles, como deve ser, e que mesmo os criminosos das criptomoedas cumprirão penas pesadas pelos seus crimes”, afirmou Dennis Kelleher, CEO da Better Markets.
A senadora democrata Elizabeth Warren aproveitou a sentença de Bankman-Fried para reforçar a necessidade de regras mais rigorosas para as criptomoedas.
“É hora de os criminosos de colarinho branco serem responsabilizados, mas os legisladores ainda estão a promover estes esquemas”, escreveu Warren no seu perfil no X-Twitter, numa crítica clara à indústria das criptomoedas. “Precisamos de regras rigorosas para combater o crime cripto”.
A moeda é virtual, mas a prisào é bem real…