Um ano depois, alegadas vítimas de Boaventura querem saber o que aconteceu à investigação

Milton Martínez / Secretaría de Cultura de la Ciudad de México

Boaventura de Sousa Santos

“Não voltem a silenciar-nos”. Em carta aberta, o coletivo de mulheres que denunciaram casos de assédio sexual de Boaventura de Sousa Santos exigem ter acesso à investigação conduzida pela Universidade de Coimbra.

Quase um ano depois de as primeiras denúncias de casos de assédio sexual e moral contra Boaventura de Sousa Santos terem sido tornados públicos, o Coletivo Internacional de Mulheres, que reúne as alegadas vítimas, divulgou uma carta aberta na qual exige ter acesso ao relatório da investigação das denúncias.

O documento está a ser produzido por uma comissão independente do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, instituição em que o sociólogo dava aulas.

“Não recebemos até agora qualquer resposta em relação à avaliação das nossas denúncias, nem qualquer compromisso de virmos a receber o relatório elaborado pela comissão independente”, diz um trecho da carta, divulgada nesta segunda-feira e citada pela Agência Pública.

O sociólogo foi afastado das suas funções no CES depois de em abril do ano passado terem sido divulgadas acusações de assédio e violação sexual de três investigadoras.

O Coletivo Internacional de Mulheres é formado por investigadoras e ex-alunas de Boaventura de Sousa Santos, brasileiras e portuguesas, que terão sofrido abusos enquanto trabalhavam com o professor e sociólogo.

A identidade da maioria das alegadas vítimas é mantida em sigilo. Apenas a deputada estadual brasileira Bella Gonçalves assumiu ser uma das queixosas. “Disseram-me que ele era intocável“, contou a deputada.

 

 

“A carta manifesta a nossa indignação coletiva e sentimento de desamparo e impunidade. Não existe reparação real sem uma disposição institucional que confirme a mudança de condutas e a repetição de situações lamentáveis”, disse a deputada à Agência Pública.

De acordo com a carta, o prazo final de divulgação do relatório sobre as denúncias contra o professor venceu no dia 1 de março. A Universidade de Coimbra, entretanto, informou que o relatório será apresentado no próximo dia 13.

O Coletivo, que em setembro enviou um amplo dossier para o CES “com detalhes narrativos e elementos probatórios”, pede acesso antecipado ao relatório.

“Enquanto denunciantes, teremos oportunidade de conhecer a validação ou não validação das nossas narrativas sobre a violência que sofremos semanas depois do relatório estar concluído e ao mesmo tempo que a comunicação social e o público em geral”, dizem as queixosas na carta agora divulgada.

O Coletivo critica também o formato de divulgação anunciado pela universidade, que teria recusado o pedido de apresentação online. “O CES recusou o pedido do coletivo de divulgar online o relatório, sabendo que a maioria das vítimas reside fora de Portugal e não tem condições materiais e emocionais para se deslocar às instalações da instituição”.

De acordo com o CES, a apresentação do relatório será feita numa das suas salas, com capacidade para 80 pessoas.

Apelamos a que respeitem a nossa dignidade, não nos desumanizem, não voltem a silenciar-nos ou a fingir que não estamos aqui”, pede o coletivo.

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