Mortágua: acordo escrito com Pedro Nuno? “Saúde. SNS. Saúde. SNS”

ZAP // Miguel A. Lopes, Filipe Amorim / Lusa

Pedro Nuno admite que Justiça é um problema “grave” no país, Mortágua lamenta o “desastre” das privatizações. Um debate com respeito pelo adversário.

Partido Socialista (PS) e Bloco de Esquerda (BE) divergem em diversos aspectos, algo que foi visível no debate desta sexta-feira entre Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua.

No entanto, os dois líderes têm noção de que podem integrar o próximo Governo. Além disso, mesmo discordando em muitos pontos, o debate decorreu quase sem interrupções; houve respeito pelo adversário.

Na RTP, o primeiro assunto foi precisamente um eventual acordo entre os dois partidos. Pedro Nuno repetiu que não seria a primeira vez que PS e BE trabalhariam juntos, mas não pensa nisso agora; se fosse para assinar acordos antes das eleições, teria havido coligação.

Mortágua começou por dizer que era responsabilidade dos dois (Mariana Mortágua e Pedro Nuno Santos) apresentar uma solução de estabilidade para “virar a página” na política portuguesa – criticou várias vezes a maioria absoluta do PS dos últimos dois anos.

Mas Mariana Mortágua cedo começou a falar noutro assunto: saúde. Disse “saúde” três vezes logo na intervenção inicial e “SNS” outras três vezes. À segunda pergunta do moderador sobre um acordo com o PS, a coordenadora do BE lamentou as políticas da maioria absoluta socialista que “agravaram políticas de saúde, habitação e salários”. E acrescentou: “Temos de perceber o que correu mal no SNS”. À terceira tentativa, respondeu que defende um acordo escrito com o PS: “Não há outra forma de acordo. (…) Há um problema no SNS e o Bloco quer resolvê-lo”.

A justiça está a demorar a resolver processos, vários deles mediáticos, e isso é um “problema grave” em Portugal, admitiu o secretário-geral do PS, que não afastou a ideia de fazer uma reforma da Justiça: “É sempre o tempo de fazer uma reforma de qualquer área, também na Justiça, e nós temos de fazer esse debate”. A líder do BE defende uma Justiça acima de tudo independente e acha “incompreensível” três factos: detenção de 21 dias sem resposta do tribunal, 20% da população prisional são de prisões preventivas e a demora de 10 anos entre o início de uma investigação e o início do julgamento.

O assunto seguinte seria as eventuais nacionalizações de grandes empresas. Antes da primeira pergunta, Mariana Mortágua reagiu: “Não quer falar de saúde?”.

Sobre o controlo público – sempre a evitar a palavra “nacionalização” – de empresas como Galp, REN, CTT, Mortágua disse que é “uma questão de soberania” e lamentou o “desastre” que foram as privatizações. Pedro Nuno lembrou que foi sempre “muito crítico” das privatizações que foram sendo feitas – mas este assunto não é prioridade para o PS: “Não está no nosso horizonte reverter nenhuma das privatizações”.

E eis que se falou sobre… saúde. Mariana Mortágua lamentou que os privados estejam “a drenar os recursos do SNS e fundos que deviam estar a ser usados para o reforçar”. Quer um regime de exclusividade dos profissionais do SNS, passando pela revisão de carreiras e dos salários. O Bloco propõe maior investimento no SNS para não ser preciso recorrer aos privados. Pedro Nuno Santos concorda: deve-se defender e investir no Serviço Nacional de Saúde, com “melhorias organizativas”. Prioridades socialistas: cuidados de saúde primários, apoio aos idosos, autonomia hospitalar e reforço dos meios de diagnóstico nos centros de saúde.

Na habitação, Mariana Mortágua repetiu que a Caixa Geral de Depósitos deveria baixar os juros no crédito à habitação, criando um efeito de arrastamento de mercado. Pedro Nuno Santos acha que isso é impossível. Não defende uma ordem deste género, directa do Estado ao banco público; e diz que o Executivo nem pode dar ordens dessas. “Além disso é uma medida regressiva: os lucros da Caixa são de todos os portugueses”. O PS tem medidas que só fazem subir os preços das casas, segundo Mortágua.

Em relação à defesa, Pedro Nuno Santos, que se “curvou” perante Alexei Navalny (que morreu no dia do debate), aponta como prioridade de Portugal cumprir compromissos internacionais; ou seja, 2% do PIB seguir para despesas militares, como ficou acordado com a NATO. Mariana Mortágua sublinha que é preciso haver um orçamento transparente neste sector e reforçar a autonomia europeia “para não se subjugar a interesses alheios”.

No jornal Observador, aponta-se para uma vitória de Pedro Nuno neste debate: “Ele é quem manda se forem viver juntos”. Na SIC Notícias, contabilizando todas as análises, houve um empate.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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