A escavação da caverna de Ilsenhöhle, em Ranis, na Alemanha, não só revelou detalhes sobre culturas antigas, como também alterou de forma significativa a cronologia da história humana.
No centro do debate está o tecnocomplexo Lincombiano-Ranisiano-Jerzmanowician, ou LRJ, caracterizado por lâminas distintas e pontas de flechas com características de artesanato Neandertal e Homo sapiens.
A questão de saber quem criou estes artefactos há muito que intriga os investigadores, oferecendo uma visão do enigmático período, há cerca de 45 mil anos, em que os Neandertais desapareceram da Europa e o Homo sapiens floresceu.
A equipa de investigação embarcou numa viagem para desvendar os mistérios da gruta de Ilsenhöhle, e o que começou por ser uma investigação sobre artefactos do LRJ levou à descoberta de um tesouro de minúsculos fragmentos de ossos.
De acordo com a Insider, os investigadores identificaram 13 fragmentos de ossos que pertenceram a humanos primitivos. A análise do ADN confirmou que estes ossos pertenciam ao Homo sapiens, pondo em causa as anteriores suposições sobre a sua chegada à Europa Ocidental.
A datação por radiocarbono dos ossos produziu resultados surpreendentes, colocando o Homo sapiens em Ranis há uns impressionantes 47.500 anos, milhares de anos antes do que se pensava anteriormente.
Esta descoberta reformula a nossa compreensão das primeiras migrações humanas, sugerindo a presença de pequenos grupos pioneiros na Europa muito antes do evento de extinção do Neandertal.
Além disso, os resultados desafiam as noções convencionais sobre a adaptabilidade do Homo sapiens a climas mais frios.
Investigações anteriores partiam do princípio de que o Homo sapiens entrou na Europa durante períodos mais quentes devido às suas origens em África.
No entanto, as provas de Ranis sugerem o contrário, indicando um clima mais frio, semelhante ao do norte da Escandinávia ou da Sibéria.
A análise de restos de animais corrobora esta narrativa, revelando a presença de mamíferos adaptados ao frio, como os mamutes lanudos e as renas.
A descoberta levanta questões sobre a forma como os primeiros humanos sobreviveram em condições tão duras, sugerindo a utilização de vestuário quente feito de peles de animais.
Embora a escavação da gruta de Ranis tenha terminado, os investigadores continuam empenhados em estudar os espécimes e artefactos existentes para desvendar a intrincada dinâmica entre o Homo sapiens e os Neandertais durante este período de transformação.
Os resultados do estudo foram recentemente publicados na revista Nature.