Debate entre porta-voz de Bloco e Livre confirmou os pontos em comum entre os dois partidos. Quem abriu a conversa foi… Montenegro.
Mariana Mortágua e Rui Tavares protagonizaram o único debate desta quinta-feira, rumo às eleições legislativas de Março.
A conversa na SIC Notícias era com porta-voz de Bloco de Esquerda e Livre, mas foi o presidente do PSD a abrir o debate. Luís Montenegro não quer aparecer no debate com Rui Tavares (e com Paulo Raimundo) – ou seja, não quer debater com Livre e PCP, dois partidos mais à esquerda, já depois de ter estado à mesa com BE.
O porta-voz do Livre começou por reagir com humor: “Estou um bocadinho chateado com a Mariana. Depois do debate que ela fez com o Luís Montenegro, ele agora não quer debater comigo e com o Paulo Raimundo. Foi eficácia mas foi pouca camaradagem, porque podias ter deixado um bocadinho para nós“. Mais a sério: “Foi uma descortesia enorme. O Livre só foi informado pelos jornalistas. Quem quer ser primeiro-ministro, tem de debater com todos os partidos”.
Antes, Mariana Mortágua também começou por falar neste caso: “Estes debates são muito importantes, respeito todos e acho errado que mudem as regras durante o jogo. Era importante que Luís Montenegro estivesse em todos os debates, a bem da democracia”.
Também na fase inicial, sobre a habitação, a porta-voz do Bloco foi questionada sobre a veracidade no caso da sua avó, que citou no debate com Montenegro. Não esclareceu o processo, porque “não faz sentido” apresentar casos particulares. Disse apenas: “A minha avó sentiu esse sobressalto e não foi a única com a lei cruel aprovada em 2012”.
Ainda na habitação, e num debate entre partidos próximos, Rui Tavares tentou afastar os dois. Acha que Livre e BE – que “não estão apenas a disputar o eleitorado de esquerda” – são diferentes no método e na maneira de agir. Proibir a venda de casas a não residentes, como defende o Bloco, pode ser um problema de “direito europeu”, avisa o porta-voz do Livre, que prefere “aumentar impostos para que isso seja menos atractivo”.
Na economia, Mortágua aposta em salários mais altos e no combate à precariedade. E discorda do Livre e do seu projecto de implementação faseada de um rendimento básico incondicional: teria um custo de “28 mil milhões de euros que são mais do que as contribuições da Segurança Social”. Rui Tavares deixou o desafio: “Experimente-se”.
Entre as ideias comuns, e ainda na economia, foi citada por exemplo a semana de quatro dias. “A redução das horas de trabalho é uma das formas de reter jovens em Portugal”, defendeu Mariana Mortágua.
Na política internacional, o Bloco de Esquerda continua a defender a saída de Portugal da NATO, uma decisão dos tempos do Estado Novo; e não quer blocos militares. O Livre considera que a questão está “muito mais na União Europeia”, quer apostar mais na Europa: “O projecto europeu deve avançar para que a Europa tenha autonomia estratégica. Se desistimos da Europa, então os Macrons vão dominar”.
O debate começou com Mariana Mortágua a dizer que havia acordo entre os dois intervenientes (sobre Luís Montenegro) e fechou o debate a dizer “acabamos com um acordo” sobre a necessidade de Defesa na Europa.
No geral foi um debate – como se esperava – com acordos, com perspectivas em comum (e recordemos que Rui Tavares era militante do BE). Poucas divergências numa conversa cordial, com sorrisos, e que teve a pior nota de todos os debates até agora, na própria SIC Notícias.
Mas faltou (a ambos) explicar melhor como melhorar a economia portuguesa.
Dois zeros à esquerda… literalmente…