Num novo estudo, uma equipa de investigadores da Universidade Técnica de Darmstadt encontrou pela primeira vez evidências de que o tempo pode “andar para trás e para a frente” — pelo menos, em alguns materiais.
A ideia de que o relógio pode andar para trás ou de que podemos viajar no tempo fascina a humanidade há milhares de anos, mas foi sempre um conceito aprisionado no campo da ficção científica. Até agora.
Num estudo inédito, publicado no fim de janeiro na revista Nature Physics, uma equipa de investigadores descobriu evidências reais do que podemos chamar de viagem no tempo — embora a um nível microscópico.
Para o comum dos mortais, o tempo voa apenas numa direção. Se uma janela se partir, ninguém espera que os estilhaços de vidro voltem a juntar-se todos, e formem de novo uma janela intacta. O vidro partido não pode “despartir-se”.
Mas para os físicos, pode não ser bem assim. No novo estudo, Till Bohmer e Thomas Blochowicz, investigadores da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, mostraram que em certas estruturas, o tempo pode baralhar-se.
Esse é o caso, precisamente, do vidro.
No seu estudo, os dois investigadores analisaram a forma como a composição deste material muda ao longo do tempo, permitindo a reversibilidade temporal à medida que envelhece — e verificaram que, no vidro, que o tempo não se comporta de uma maneira exatamente linear.
Entre os materiais que compõem os objetos que usamos diariamente, o vidro é uma das estruturas mais fascinantes. Em vez de seguir estruturas moleculares mais tradicionais, as moléculas do vidro mudam constantemente de posição — revertendo o tempo, a nível molecular.
Para testar este comportamento, os investigadores analisaram estruturas de vidro usando luz laser dispersa, e observaram como as suas moléculas se “empurravam” e reorganizavam em novas disposições.
“As minúsculas flutuações nas moléculas tiveram de ser documentadas utilizando uma câmara de vídeo ultra-sensível. Não se pode simplesmente ver as moléculas a mexerem-se,” explica Blochowicz, citado pela Interesting Engineering.
E devido à forma como o vidro se move internamente, não é possível determinar se as mudanças observadas estão a acontecer “para a frente ou para trás”. Ou seja, explicam os investigadores, do ponto de vista molecular, as partículas de vidro andam para trás e para a frente no tempo.
“Isto não significa que o envelhecimento dos materiais possa ser revertido. Significa apenas que o conceito do tempo nos materiais é uma boa forma de capturarmos a essência da irreversibilidade do envelhecimento”, explica Bohmer.
É um pensamento desconcertante (para os leigos, pelo menos) mas fascinante – e, embora não nos deixe mais perto de poder viajar no tempo, muda seguramente a forma como pensamos sobre certos materiais que usamos todos os dias.