André Villas-Boas, ex-treinador da equipa principal de futebol, lançou hoje a candidatura à presidência do FC Porto — um clube que parece “capturado por interesses alheios”, com uma gestão “sem rumo e sem nexo”.
“Caras amigas e amigos, sou candidato à presidência do FC Porto”, disse o técnico, ao discursar na cerimónia de apresentação da lista designada “Só há um Porto”, que decorreu na Alfândega do Porto.
Num discurso recheado de frases fortes, Villas-Boas começou por dizer que a apresentação da candidatura é “momento de grande significado para mim, um momento pleno de portismo, sede e vontade de vencer, um passo para o qual me preparei para poder ir de encontro às vossas exigências“.
“Sou candidato porque quero um FC Porto mais forte, um FC Porto competitivo, um FC Porto vencedor, dos sócios e para os sócios“, acrescentou.
Depois de ter enaltecido o contributo do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, “o presidente de todos os presidentes do FC Porto“, Villas-Boas apresentou as razões da sua candidatura.
“Porquê esta candidatura, porquê agora?”, questionou o antigo técnico portista. “Porque neste momento já não somos capazes de construir valor, crescer enquanto clube e organização, propagar a nossa cultura, construir equipas vencedoras e cimentar o associativismo que tanto nos orgulha”.
“Parecemos capturados por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto, que ferem os valores fundamentais da nossa instituição”, sublinhou.
“Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões em vendas e, em 2015, fez o maior contrato de transmissões televisivas. Qual é a realidade atual? Um passivo de 500 milhões e uma dívida de 310 milhões“, recordou André Villas-Boas.
“A nossa capacidade competitiva ameaçada, as contas em total descontrolo. Nos últimos 20 anos, o FC Porto gerou mais 2,9 mil milhões de euros em receitas, e hoje temos um clube incapaz de acautelar a sua responsabilidade. Vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo e sem nexo»
“A tudo isto acresce a deficiente gestão dos ativos da equipa de futebol”, salientou. “São inúmeros os jogadores a saírem a custo zero, contratações falhadas por falta de análise, rigor e planeamento. Ou será que servem interesses de outros, alheios ao FC Porto?”.
“Está na hora de mudar!“, exclamou o candidato.
“É essencial implementar medidas de gestão para restaurar equilíbrio financeiro do clube. Para isso, é preciso uma análise detalhada para compreender o atual descalabro financeiro. Um modelo mais rigoroso é fundamental. Queremos uma administração executiva com profissionais credíveis e respeitados”, salientou.
“Adotar um portal de transparência assente num modelo de gestão aberto, com informação fidedigna para os sócios de toda a informação do FC Porto. Não temos medo nem vergonha em dizer com quem trabalhamos”, especificou o candidato.
“Todos os custos com vendas e compras de jogadores ou negócios do FC Porto serão declarados nesse portal”, adiantou.
Projetos, propostas, promessas
“Apresento esta candidatura para devolver o FC Porto aos sócios, para que o clube seja novamente uma fonte de alegria e vitórias, uma inspiração para os nossos jovens”, explicou o candidato a presidente do clube.
“Com coragem de querer cortar com o status quo existente, onde impera o medo e onde ninguém se pode exprimir livremente sem ser ameaçado ou censurado”, realçou André Villas-Boas, numa refer~encia aos acontecimentos recentes na Assembleia Geral do FC Porto.
“Apresento esta candidatura com um programa arrojado e transformador, com uma equipa que vai devolver a dignidade ao nosso clube“, prometeu o candidato.
” O nosso objetivo é manter o FC Porto como referência do futebol mundial a todos os níveis. Ao longo das próximas semanas, iremos apresentar os órgãos sociais que compõem a lista da candidatura, bem como as administrações”, especificou.
“Gostaria de partilhar com todos vós as principais linhas estratégicas deste programa, sendo que as mesmas serão debatidas em sede de campanha“, adiantou.
“No programa desportivo, uma direção desportiva competente, experiente, estruturada, profissional e interventiva. Sendo este o coração da nossa instituição, é fundamental que reflita a grandeza e grau de exigência do clube”, disse.
“Uma direção de scouting capaz de identificar, filtrar e escolher de forma criteriosa o talento, planeando as equipas a curto, médio e longo prazo, seja na equipa sénior ou na formação, em todas as modalidades”, acrescentou Villas-Boas.
“Um modelo de gestão rigoroso, capaz de criar valor na equipa sénior e na formação. Um gabinete de performance que otimiza e potencia o talento, uma metodologia planificada, apoiada na exigência e criatividade, sem medo da emancipação precoce dos seus jogadores”.
André Villas-Boas prometeu fazer uma aposta séria no futebol feminino com o completar dos escalões em falta e lançar as bases para a criação do futsal no clube, “primeiro através da sua prática nos escalões inferiores e depois até à equipa sénior”.
“Por fim, o centro de alto rendimento no Olival. Ainda há dias veio o presidente da CM de Gaia dizer que o FC Porto terá de comprar o resto dos terrenos de construção da sua academia. O que acontece se um privado mal intencionado os comprar? E se um clube rival os comprar?”, questionou.
“Uma academia que foi promessa eleitoral em 2016 é hoje, oito anos depois, uma promessa eleitoral. Gostava de partilhar uma história. Há dois anos, quando nos lançámos aqui, fizemos duas chamadas a proprietários de terrenos. Em duas chamadas, encontrámos o proprietário de um terreno a mil metros do atual centro de treinos do FC Porto”, contou o candidato.
“Em oito anos, o melhor que conseguimos fazer foi arranjar um na Maia?”, questionou Villas-Boas. “Durante as próximas semanas, vamos dar a conhecer o plano de arquitetura para este obra, bem como as imagens 3D, e discutiremos a projeção do custo e as possibilidades de financiamento”.
“Tudo às claras e com a máxima transparência para com os sócios”, prometeu.
“Deixo algumas das medidas que temos previstas para criar um FC Porto mais próximo dos seus associados: o sócio no centro da comunicação”, começou por dizer Villas Boas a encerrar o seu discurso.
“Dignificar as distinções e a entrada das rosetas, elevando o estatuto e compromisso que os sócios demonstram. Proteger e beneficiar os sócios detentores de lugares anuais, no Dragão e Dragão Arena”, acrescentou.
“Reformular os critérios de atribuição de sócio do ano. Modernizar os processos de bilhética do Estádio do Dragão e da Dragão Arena. Reformatar o departamento de gestão das casas do FC Porto”, especificou ainda Villas-Boas. “As casas do FC Porto não servem só para bater palmas nas galas e nos jantares”.
“Viva o FC Porto! Viva o FC Porto! Viva o FC Porto!”, concluiu André Villas Boas.
Mais jovem de sempre com vitória europeia
André Villas-Boas, de 46 anos, passou pelo comando técnico do FC Porto em 2010/11 e arrebatou quatro competições, entre as quais a I Liga portuguesa e a Liga Europa, que representa a última das sete conquistas internacionais da história dos ‘azuis e brancos’.
Iniciada na Académica (2009/10), a carreira de treinador principal passou também pelos ingleses do Chelsea (2011/12) – numa época em que os ‘blues’ venceram a primeira Liga dos Campeões do seu historial e uma Taça de Inglaterra – e do Tottenham (2012-2013).
Seguiram-se experiências com o Zenit São Petersburgo (2014-2016), no qual venceu um campeonato, uma Taça da Rússia e uma Supertaça, com os chineses do Shangai SIPG (2016-2017) e com os franceses do Marselha (2019-2021), último clube por si orientado.
Antes desse percurso nos bancos, André Villas-Boas assumiu funções de observador no FC Porto, integrando as equipas técnicas do já falecido inglês Bobby Robson e de José Mourinho – com quem trabalhou igualmente no Chelsea e nos italianos do Inter Milão – e teve uma breve passagem como diretor técnico da seleção das Ilhas Virgens britânicas.
Técnico mais jovem de sempre a ganhar uma prova europeia, o detentor do Dragão de Ouro de treinador do ano em 2011 junta-se agora a Nuno Lobo, candidato derrotado em junho de 2020, nas eleições do FC Porto rumo ao quadriénio 2024-2028, cuja data ainda será marcada pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral (AG), José Lourenço Pinto.
Pinto da Costa, de 86 anos, ainda não revelou se concorrerá a um 16.º mandato seguido, numa fase em que é o dirigente com mais títulos e longevidade do futebol mundial, tendo sido eleito pela primeira vez como 33.º presidente da história do clube em abril de 1982.
ZAP // Lusa