Por algum motivo, há familiares com quem quase nunca estamos. As excepções são funerais e… o Natal.
Além do bacalhau e das batatas, da árvore e das restantes decorações, da lareira e das prendas por desembrulhar, o Natal também envolve – quem diria – pessoas.
A grande maioria das pessoas recebe familiares em casa, quer na noite, quer no dia; ou então vai a casa de algum desses familiares.
Numa cena de filme, o ambiente seria ideal. Só sorrisos e bom ambiente (e às vezes nem nos filmes).
Numa cena da vida real, não é bem assim, muitas vezes. As pessoas entram em conflito na noite de Natal. Ou não estão bem à mesa, mesmo sem discussões.
Por algum motivo, há familiares com quem quase nunca estamos. As excepções são funerais e… o Natal.
Quando há perguntas inconvenientes, conversas desinteressantes, ou pessoas à mesa com quem não nos identificamos – qual é a solução?
O jornal Público procurou respostas. Numa fase em que a pressão é (ainda maior) para parecermos bem, mesmo quando não estamos, também se junta o cansaço habitual desta época, do fim do ano.
Luana Cunha Ferreira, terapeuta familiar, deixa a pergunta: “Será que é suposto estarmos felizes com pessoas que contribuíram para tantas das nossas dores, como pais que nos negligenciaram, tios que foram desadequados?”.
Mas, mesmo sabendo disso, a rotina mantém-se: “Continuamos a alimentar a expectativa de que vamos estar confortáveis, quando o stress e tensão são a resposta adequada a um contexto que o nosso organismo lê como pouco benéfico“.
E como o Natal não é perfeito, na maioria das famílias, há que ser realista: convidar amigos ou excluir, propositadamente, determinados familiares.
Porque podemos escolher a forma de viver o Natal.
A psicóloga Sofia Andrade apresenta outro caminho: identificar as emoções que criam esta ansiedade: “É tristeza porque não vou passar o Natal com os meus filhos – porque me divorciei? É frustração, zanga?”.
Depois de fazer essa lista, antecipamos as nossas necessidades e falamos com quem devemos falar. “Devemos dizer aos outros, directamente, o que é importante para nós neste Natal”, continua Sofia.
Há outros dois tipos de ansiedades muito comuns nesta altura: os presentes e os comentários desagradáveis.
Em relação às compras de Natal, já sabemos qual é a solução mais eficaz: antecipação. Não esperar por Dezembro para fazer compras. Não temos de ser como os outros. E não temos de dar prendas a toda a gente – mesmo que sejam familiares.
“Estás tão magrinha!” ou “Quando é que a tua filha tem uma irmã?”. Quem lança estas frases não tem, normalmente, má intenção; está genuinamente preocupada. Mas são palavras que causam impacto na mesma em quem as ouve. Para esses momentos, Sofia Andrade aconselha ter “a resposta na algibeira”. Pensar antecipadamente que perguntas virão e até combinar com marido ou esposa o que vão responder de forma automática. Respostas “emocionalmente reguladas” são melhores e evitam a surpresa.